Movimento indígena equatoriano que apoiou Gutiérrez lidera manifestações contra ex-presidente

22/04/2005 - 19h19

Gabriela Guerreiro e Érica Santana
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - Lucio Gutiérrez assumiu a presidência da República do Equador em 2002 com o apoio dos mesmos movimentos sociais que conseguiram pressionar o Congresso Nacional para tirá-lo do poder esta semana. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), que reúne diversos representantes de etnias equatorianas, foi uma das entidades que liderou os protestos contra Gutiérrez nos últimos dias, mas há três anos havia ajudado o então coronel do Exército a se eleger presidente.

O diretor da Confederação, Manoel Castro, afirmou em entrevista à Agência Brasil que os indígenas foram em grande parte responsáveis pela eleição de Gutiérrez, mas mudaram de idéia diante da maneira com que o presidente conduziu a política do país. "O governo de Lucio Gutiérrez subiu ao poder com o apoio da Conaie, de todos os indígenas. Mas deu as costas porque não respeitou a proposta econômica da Conaie, o que tínhamos conversado e acordado", enfatizou. Ao longo do governo de Gutiérrez, um dos ministros que era indígena renunciou ao cargo por não concordar com a maneira de governar do presidente.

Os índios equatorianos, no entanto, não foram unânimes em defender a saída de Gutiérrez do poder. Mas Manoel Castro garante que a maioria lutou junto com a população equatoriana para que houvesse a troca no Executivo do país. "O que aconteceu é que ele agarrou alguns indígenas traidores e líderes ressentidos. O movimento indígena destituiu governos corruptos anteriores. Mas dessa vez a Conaie está dividida, desmantelada frente aos movimentos sociais", diz.

Os indígenas equatorianos acusam Gutiérrez de ter se tornado o que chamam de "ditador" no poder, e de ter instituído práticas de cunho racista contra os índios no país. Mais da metade da população equatoriana é formada por índios e mestiços. Na avaliação de Manoel Castro, o governo de Gutiérrez conseguiu "ignorar" os pleitos indígenas e "desmantelar" as principais organizações sociais do país.

A Confederação espera que o governo de Alfredo Palacio - vice-presidente que assumiu o poder após a destituição de Gutiérrez - respeite as propostas apresentadas pelos movimentos indígenas e, sobretudo, abra um canal direto de negociação. Os índios também estão otimistas para que não haja intervenção internacional sobre o Equador como forma de blindar Lucio Gutiérrez de possíveis crimes a serem respondidos na Justiça. "Vamos sentar todos os movimentos indígenas e levar uma proposta para o governo. Esperamos que as Nações Unidas sigam o que o povo equatoriano deseja e não caia no engano da cumplicidade. É uma questão interna do Equador", resumiu.