Thaís Brianezi
Enviada especial
Boa Vista - Pelo menos cinco comunidades macuxi do Baixo Cutingo, na terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, temem sofrer ataques dos arrozeiros: Tai Tai, Inskiran, Brilho do Sol, Homologação Raposa Serra do Sol e Jauari. Em todas elas, no dia 23 de novembro do ano passado, um grupo de arrozeiros e indígenas é acusado de destruir e queimar casas. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal.
A reserva foi homologada no dia 15 de abril. A demarcação em área contínua garante 1,74 milhão de hectares para os índios e exclui algumas áreas, como o núcleo urbano da sede do município de Uiramutã. Os ocupantes não-índios da reserva - entre os quais os arrozeiros que exploram terras na margem Sudoeste da área - devem deixar o local no prazo de um ano após a data de homologação.
"O prazo de um ano para os arrozeiros deixarem a área é muito tempo. A gente tem medo de novas represálias", diz Moisés Martins, tuxaua da comunidade Tai Tai. "A gente vive aqui sem segurança. Há duas semanas, sumiram 60 reses, metade do nosso rebanho", denuncia Nelson Galé, tuxaua da comunidade Homologação Raposa Serra do Sol.
Na comunidade Jauari, onde foram queimadas 22 casas, os sinais da destruição ainda são visíveis. Onde havia um posto de saúde, hoje há apenas tijolos e frascos quebrados de medicamento. No lugar da escola, restam algumas carteiras escolares. Jocivaldo Constantino traz na pele a lembrança do ataque: tem duas marcas de tiro no antebraço e uma no rosto. "Ainda tenho um chumbo no braço porque o doutor não conseguiu tirar. A dor é tanta que não consigo trabalhar direito", contou ele.
As cinco comunidades, segundo Marinaldo Trajano, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), foram reocupadas pelos indígenas no segundo semestre do ano passado. "Eram todas áreas das quais os parentes foram embora, com a chegada dos lavoeiros. Aí, para fazer frente à expansão do arroz, nós decidimos que era estratégico voltar para elas", explicou ele.