Missa de sétimo dia da morte de Dorothy Stang relembra legado de uma luta

18/02/2005 - 20h53

Spensy Pimentel
Enviado especial

Anapu (Pará) – Ao final da tarde, ainda sob um forte calor, cerca de 100 pessoas rezaram a missa de sétimo dia da morte da missionária Dorothy Stang. O ato religioso foi celebrado na Paróquia de Santa Luzia, em Anapu, por Padre Amaro, membro da Comissão Pastoral da Terra e amigo pessoal da freira por mais de 15 anos.

Uma procissão deixou a pequena igreja, seguiu por cerca de 200 metros até atravessar uma ponte suspensa sobre o rio Anapu, e chegou ao Centro de Formação São Rafael, onde está o túmulo de Dorothy. O centro era um dos locais onde a missionária realizava seu trabalho comunitário.

A religiosa está sepultada à sombra de árvores de um pomar; entre uma goiabeira e uma mangueira, cujos frutos eram comidos pelas crianças que acompanhavam a manifestação. As pessoas colocavam velas e flores sobre o túmulo. Ao mesmo tempo, rezaram e falaram sobre a importância de Dorothy para a comunidade.

Os populares carregavam faixas com os dizeres "Com sua simplicidade, conquistou seu espaço, mostrando que somos iguais" ou "Toda mulher traz em si o poder da transformação". Numa cruz de madeira sobre o túmulo, papéis com os nomes de Chico Mendes (líder sindical dos seringueiros do Acre, assassinado em 22 de dezembro de 1988), Irmã Adelaide (assassinada em Eldorado dos Carajás em 2 de maio de 1985) e Irmã Dorothy.

Também debaixo das árvores, a imagem de Santa Julie Billiart, fundadora da congregação das irmãs de Notre Dame de Namur, da qual a freira fazia parte. Entre os discursos de elogio ao trabalho da missionária no Pará, Padre Amaro lembrou que Dorothy ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores na rodovia Transamazônica, que corta ao meio a pequena Anapu. Era a Escola Brasil Grande.

O padre também cobrou atitudes das autoridades para resolver os conflitos agrários na região. "Queremos que o governo, tanto federal quando estadual, tome vergonha e assuma o seu papel", disse. "Segurança pessoal, não queremos. Queremos segurança para o povo das glebas", completou em referência à recusa de proteção que Dorothy manifestou mesmo após as ameaças de morte. Atualmente, pelo menos sete pessoas que trabalhavam com a freira ainda sofrem intimidações na região.