Brasília, 9/7/2004 (Agência Brasil - ABr) - A Venezuela conseguiu durante a 26ª reunião de Cúpula do Mercosul, realizada ontem, em Puerto Iguazú, na Argentina, ingressar no bloco econômico como membro associado em meio às indefinições políticas que marcam o país. No dia 15 de agosto, os venezuelanos vão às urnas em um referendo que vai apontar se a população defende ou não a permanência do presidente Hugo Chávez no poder.
Na avaliação do ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, a decisão de acatar a Venezuela no Mercosul como membro associado não está vinculada ao referendo que será realizado em agosto. "Há muito tempo o presidente Chávez nos pedia para entrar no Mercosul. Se para a Venezuela isso é útil politicamente, é outro problema. Mas o objetivo (da sua adesão ao Mercosul) não é esse", garantiu Amorim.
O chanceler adiantou que o Brasil vai ajudar a Venezuela na execução do referendo. O governo brasileiro vai enviar, a pedido do governo da Venezuela, dois especialistas em urnas eletrônicas para garantir transparência ao processo. Segundo o ministro, a Organização dos Estados Americanos (OEA) também vai acompanhar o referendo como forma de garantir maior segurança ao governo e à população venezuelana. "As coisas estão encaminhadas no sentido de ter uma solução democrática e eleitoral, como a resolução eleitoral prevê. Eu estou convencido de que vai ser dessa maneira", disse Amorim.
Chávez foi eleito presidente em 1998 e enfrentou no ano passado um golpe de Estado. A oposição venezuelana acusa-o de querer instaurar um sistema comunista como o de Fidel Castro, e apresentou mais de três milhões de assinaturas pedindo um referendo revogatório para terminar com a extensa crise política que vive a Venezuela. O presidente disse concordar com o referendo, e garantiu estar disposto a deixar o poder caso a população revele que está descontente com a sua presença no comando do país.
O ingresso definitivo do país como membro associado do Mercosul, porém, só deve ocorrer daqui a mais de um mês. A declaração conjunta assinada pelos quatro presidentes dos países que integram o Mercosul prevê a adesão definitiva depois que a Venezuela terminar de apresentar os últimos detalhes do acordo de livre comércio com o bloco econômico. O acordo é uma das prerrogativas para a adesão como membro associado do Mercosul, assim como o pedido para se tornar sócio, e a aceitação final dos países membros. "O acordo está quase 100% finalizado. Faltam detalhes mínimos", disse Amorim.
O México também aproveitou a reunião do Mercosul para pedir o seu ingresso no bloco econômico como membro associado, mas Amorim disse que o país ainda não começou a negociar o acordo de livre comércio com o bloco, por isso a sua entrada vai ser um pouco mais demorada. O Mercosul também negocia com países da Comunidade Andina, especialmente Colômbia e Equador, para que se associem ao bloco, a exemplo do que já foi efetivado com o Peru.
Além desses países, o bloco do Cone Sul também vem mantendo negociações com países como a China, Japão e a Índia. "Até o Japão está interessado. Para quem chegou a dizer que o Brasil ia negociar com a Antárdida, estamos negociando com o mundo inteiro", resumiu Amorim.