Brasil nega que negociação com UE possa enfraquecer G20

15/04/2004 - 18h40

Nádia Faggiani
Repórter da Agência Brasil

Brasília – União Européia e Mercosul devem finalizar ainda esta semana as ofertas melhoradas para a criação de uma área de livre comércio. Com as duas propostas em mãos, os blocos devem se econtrar à mesa de debate, no próximo domingo, dia 18, em Buenos Aires.

O Itamaraty informou que o Mercosul não vai atender a "100% das ambições européias", mas adiantou que o bloco fez "um movimento sério e substancial para atender o pedido europeu". A proposta possível oferecida pelo Mercosul passou por uma melhoria na oferta de produtos, investimentos e bens industriais e agrícolas.

Na avaliação do Ministério da Relações Exteriores, o fato de o Mercosul negociar um acordo bilateral com a União Européia antes de fechar um acordo multilateral na Organização Mundial do Comércio (OMC) "não prejudica as negociações do G-20 porque cada acordo é negociado separadamente e o Mercosul só irá firmá-lo quando existir equilíbrio entre o que o bloco oferece e o que recebe a oferta". O G-20 é formado por países em desenvolvimento que defendem na OMC maior liberalização do comércio agrícola e o fim dos subsídios dos países desenvolvidos.

Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim reiterou que "não sacrificará os interesses do Brasil na OMC, nem irá minar o G-20 para conseguir um acordo satisfatório com a União Européia". O bloco europeu, segundo o Itamaraty, vai ofertar o que tem disponível no momento e quando encerrar a atual rodada de negociações da OMC, será ofertado o restante. O Mercosul irá analisar a proposta e responder "de acordo com os seus interesses".

União Européia

Para o embaixador da União Européia no Brasil, Alberto Navarro, o acordo bilateral entre os blocos antes de um acordo plurilateral na OMC traz "resultados positivos". "Se um acordo de livre comércio cumpre as regras da OMC, ele contribui para criar mais oportunidade de comércio e mercado para os demais países, que é o objetivo da organização. Tudo o que ajuda a liberalizar o comércio é importante para os demais países e é positivo para a rodada de Doha", afirma o embaixador Alberto Navarro.

O embaixador considera absurda a reportagem do jornal britânico Financial Times que sugere que a União Européia tenta "comprar" o Mercosul com ofertas no setor agrícola para ganhar a rodada da OMC. "O Mercosul não é tão barato assim para ser comprado com concessões agrícolas. Não vamos dar uma oferta de graça, mas esperamos do Mercosul concessões em serviços, compras governamentais, investimento", disse. "Quando as negociações chegam em um momento-chave acontecem repercussões curiosas. Se a União Européia faz concessões falam que estão comprando os países para terem posição fora da região, se não fazem nada, dizem que não queremos negociar".

Navarro acredita que a oferta será favorável ao Brasil e que o país precisa abrir seus mercados. Ele lembra que as exportações brasileiras para a Europa cresceram mais de 20% em 2003 e, este ano, subiu 30% em relação ao ano passado. De acordo com a embaixada da União Européia no Brasil, o bloco é responsável por 40% das exportações agrícolas brasileiras. "Há grande interesse dos dois blocos em concluir as negociações. Na América Latina, México e Chile já possuem acordos com a União Européia. Como 'amigo', diria para o Brasil não deixar passar essa oportunidade", ressaltou Navarro.

Buenos Aires

O acordo entre Mercosul e União Européia está em negociação há quatro anos e a principal dificuldade de consenso são as concessões agrícolas. O prazo para o fim das discussões está marcado para outubro deste ano. De acordo com o Ministério da Relações Exteriores, a oferta brasileira já está pronta, mas o encontro na Argentina só acontecerá caso existam propostas dos dois lados para serem colocadas à mesa de negociação. Caso o debate não aconteça neste final de semana, a próxima reunião oficial entre União Européia e Mercosul está marcada para 3 de maio, em Bruxelas.