Winnie Mandela: apartheid é ''piquenique'' perto de crimes contra mulheres no mundo

20/01/2004 - 17h45

Por Eunice Mafundikwa
da IPS*

Mumbai (Índia) - Ela era só mais uma das mulheres africanas que chegavam para ouvir o relato das cubanas sobre a experiência de viver num país por tantos anos sob as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos. Pelo menos foi o que pensou a maioria das 30 delegadas reunidas na tenda B51. Entretanto, quando o coordenador do seminário anunciou que a mulher vestida de amarelo e branco era Winnie Mandikizela Mandela, houve excitação na platéia.

Muitos, sem se importarem de perturbar a sessão, se levantaram para cumprimentar Winnie. Para eles, um ícone. "Ainda bem que a maioria das pessoas não a reconheceu, porque seria um problema conter a multidão. Somos só nós dois aqui com ela", disse Mafanyana, um dos responsáveis pela segurança de Winnie, que antes havia perambulado pela área do Fórum Social Mundial sem ser recohecida. "Eu tenho certeza de que, mais tarde, quando espalharem a notícia de que ela está aqui, a história será diferente", acrescentou Mafanyana.

Winnie chegou a Mumbai no domingo. Ela disse que veio em solidariedade às mulheres que, em todas as partes do mundo, estão engajadas em diferentes lutas. "Nós estamos aqui para apoiar umas às outras e afirmar que podemos superar os obstáculos". Winnie disse ainda que gostaria de, ao estar ali, servir de inspiração para outras mulheres, mas que não poderia ser assim porque os desafios impostos às mulheres sul-africanas estavam longe de serem superados.

Desde que se separou do ex-presidente da África do Sul , Nelson Mandela, Winnie tem se concentrado na luta pelos direitos da mulher. "Eu sempre pensei que o apartheid tivesse sido o pior crime que se havia cometido contra a humanidade. Contudo, o testemunho do que outras mulheres têm enfrentado faz a nossa experiência com o apartheid parecer um piquenique", disse a ativista sul-africana, lembrando que a melhor maneira de inspirar as outras mulheres é lutar com elas.

"As mulheres são sobreviventes. As mulheres são surpreendentes. A resistência das mulheres ao redor do mundo é o que faz esse mundo funcionar", concluiu Winnie.

tradução: Agência Brasil

*material produzido por Inter Press Service/Envolverde, parceiras na cobertura do Fórum Social Mundial 2004