Alecia McKenzie
Mumbai, Índia - A imagem de tratores israelenses demolindo as casas dos palestinos se tornou comum nos canais das redes internacionais de televisão. Mas, isso não está acontecendo somente nos territórios ocupados. A destruição de casas, de lugares sagrados e de vilas inteiras também está sendo praticada em lugares como o Tibete e na região turca do Curdistão.
Delegados dessas duas regiões se juntaram a representantes palestinos, nessa segunda-feira, para pedir o fim dessa prática, ilustrada em Mumbai com fotografias, mapas e estatísticas. Eles mostraram em gráficos o sofrimento dos povos vítimas das demolições.
"As crianças pagam o preço mais alto", disse o palestino pesquisador dos direitos humanos Qasem Abu-Dayyeh, enquanto mostrava fotografias de crianças sentadas sobre os escombros do que um dia foi as suas casas. "A demolição tem um efeito psicológico devastador sobre as crianças.E compromete a educação delas"
No Curdistão turco, o número de meninos de rua cresceu como resultado da política do governo da Turquia de destruir vilas, disse Nazmi Gur, representante da organização humanitária turca, GIYA. Ele lembrou que a Turquia mandou demolir pelo menos 4 mil pequenas cidades antes do ano 2000. Eles pararam por duas razões: "ou não há mais vilas a serem destruídas ou porque eles estão querendo fazer parte da União Européia". Entretanto, o deslocamento da população curda continua, acrescentou Gur.
Turquia e Israel têm dito que as demolições são feitas por razões de segurança, particularmente para afugentar terroristas ou destruir seus esconderijos. Mas, os ativistas dos direitos humanos não concordam.
"Demolição é usada como um meio de punição coletiva contra os palestinos", disse Abu-Dayyeh. "E também para deslocar uns e colocar outros no lugar, ou até tão somente para construir vias de acesso aos novos assentamentos."
A anistia internacional tem dito que a política de Israel é baseada na discriminação.
Segundo os representantes das organizações humanitárias, "os palestinos estão na mira dos isralenses simplesmente porque são palestinos. Em função disso, Israel ignora a Convenção de Genebra que exige que as forças de ocupação cuidem do bem estar das pessoas das áreas ocupadas. Ignora também a legislação internacional sobre direitos humanos que reconhece o direito de cada um de ter um padrão de vida decente, incluindo abrigo".
A razão atual para a demolição das casas dos palestinos é a construção do que Abu-Dayyed chamou de "muro do apartheid", uma sequência de muros de cimento, cercas de arame farpado de 752 quilômetros que Israel está construindo para separar parte da Cisjordânia do território israelense. Pelo menos 300 casas palestinas já foram derrubadas para a passagem do muro, disse Abu-Dayyed, acrescentando que os militares israelenses também destruíram lugares sagrados como igrejas e mosteiros.
Com relação ao Tibete, as autoridades chinesas já mandaram demolir mais de 6 mil monastérios desde 1950, revelaram os delegados tibetanos presentes ao Fórum Social Mundial. Em junho de 2001, o Instituto Budista Serthar, o maior do país, foi destruído, deixando 8 mil monges e monjas sem teto.
"A política chinesa visa a extinção gradual da cultura e da religião tibetanas", disseram os delegados em um comunicado em Mumbai.
Embora palestinos, curdos e tibetanos possam se ver como diferentes, esses abusos aos direitos humanos são algumas das coisas que eles têm em comum, declarou Murielle Mignot, representante da Coalisão Habitat Internacional, instituição que organizou esse debate.
Mignot falou que ao colocar todos juntos, tinha a intenção de que eles pudessem trocar estratégias de como lutar contra esses abusos. "Apesar deles parecerem grupos estranhos um ao outro, no final eles são, simplesmente, "povos sob ocupação e dominação estrangeira", disse.