Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Desde o começo deste ano até a última quinta-feira (25), 85 policiais foram mortos em todo o estado de São Paulo. O dado oficial, confirmado pela Polícia Militar, ainda não contabiliza a morte de um policial em folga, ocorrida na noite da última quinta-feira na capital paulista. Segundo a Polícia Militar, 67 destes policiais mortos eram da ativa e 18 aposentados. O número já é bem superior ao que foi registrado em todo o ano passado. Em 2011, de acordo com a PM, 56 policiais foram assassinados, tanto da ativa quanto os aposentados. Em 2010 foram 71 policiais militares, informou o órgão, que não comenta o balanço.
Na última quinta-feira (25), o governador de São Paulo Geraldo Alckmin informou que 117 pessoas foram presas nos últimos dois meses sob suspeita de participação nos ataques aos policiais militares. Segundo o governador, mais 28 suspeitos estão sendo procurados e 19 morreram em confrontos com a polícia. “O governo não retroage. Não vai voltar 1 milímetro. O que ganha um criminoso quando ataca a polícia? Ele (criminoso) está querendo criar intimidação”, disse o governador, defendendo a ação policial no enfrentamento do crime no estado.
Balanço divulgado na última quinta-feira pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que entre janeiro e setembro deste ano 13 policiais militares e dois policiais civis foram mortos em serviço. No mesmo período do ano passado, 13 policiais militares e oito civis foram mortos em serviço. Mas o balanço não contabiliza o número de policiais mortos enquanto estavam de folga.
Também entre janeiro e setembro deste ano, 28 pessoas morreram em confrontos com policiais civis e 369 com policiais militares, totalizando 397 pessoas mortas em confrontos no período. Isso significou aumento de 8,5% em comparação ao ano passado. No mesmo período de 2011, 30 pessoas morreram em confronto com policiais civis e 333 por policiais militares, totalizando 363 pessoas.
Os números da secretaria também revelaram aumento de 96% no número de homicídios na cidade de São Paulo no mês de setembro em comparação com o mesmo período do ano passado. Em setembro, a capital registrou 135 casos de homicídios, enquanto no mesmo mês de 2011 foram registrados 69 casos.
No acumulado entre janeiro e setembro, a alta foi 22% na capital, com 920 casos de homicídios e 982 vítimas (o número de vítimas é maior porque pode haver mais mortes em um mesmo boletim de ocorrência). Em todo o estado, no mesmo período, o aumento foi 8%.
Em entrevista concedida na manhã de sexta-feira (26), o secretário de Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto disse não acreditar que a morte de policiais decorra de uma retaliação de organizações criminosas. “O que está incomodando é o combate efetivo ao tráfico de drogas. Há essa reação deles [criminosos], mas sem aspecto de retaliação”, disse. “A estratégia é exatamente essa: com policiamento mais efetivo. O combate é efetivo e temos certeza de que vamos reverter este quadro adverso no momento”, disse ele.
Durante a entrevista, o secretário disse que a estratégia de combate à violência em São Paulo está correta. “Não há estratégia dando errado. A estratégia tem dado certo”, disse Ferreira Pinto.
Ele também descartou a necessidade de as Forças Armadas auxiliarem as ações policiais neste momento no estado. “São Paulo é autossuficiente. A polícia de São Paulo é preparada, tanto a civil quanto a militar”, falou.
Segundo o secretário, a maior parte dos autores dos homicídios de policiais já foi presa. “Temos apenas dez [criminosos] computados que reagiram e acabaram morrendo”, disse.
Em entrevista à Agência Brasil, o coronel reformado da PM paulista José Vicente da Silva Filho, consultor de segurança e professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da Polícia Militar de São Paulo, também analisa como correta a estratégia utilizada pela polícia no estado. “Neste ano, a polícia vem fazendo uma repressão muito severa ao tráfico e à distribuição de drogas nas ruas da cidade o que tem suscitado uma ação mais intensa dos criminosos incomodados com isso”, falou.
Segundo ele, também é preciso analisar os números referentes às mortes de policiais, que indicam que a maior parte não ocorreu em consequência de confrontos com organizações criminosas. “O que a polícia tem percebido – e conversei sobre isso recentemente com o secretário e com o comandante-geral da PM [Roberval Ferreira França] – é que há uma variedade muito grande. Não se pode colocar tudo numa única cesta de casos e atribuir uma causa comum a isso. Temos aí uma quantidade expressiva de policiais que reagiram a um assalto e morreram, que somam mais de 20 casos, e casos de policiais que estavam executando algum trabalho no seu horário de folga (como vigilantes particulares, por exemplo) e acabaram morrendo. E temos também os casos com características de execução, que é um outro grupo”, disse.
Para o coronel, o aumento no número de mortes de policiais neste ano se deve a dois principais fatores: “Um é a intensificação muito grande da polícia no combate ao tráfico de entorpecentes. Outro aspecto é que a polícia vem mantendo o ritmo pesado de prisão de criminosos”, disse. Segundo ele, o que pode estar ocorrendo também é que alguns criminosos têm aproveitado a onda de violência para “fazer ações contra seus principais desafetos”.
“Historicamente, o que se percebe é que o grande instrumento que existe para a polícia reduzir crimes é a reação competente dela ao criminoso. O bandido tem de ter medo da polícia. Medo de ser apanhado, de ser preso”, defendeu o coronel.
Já a socióloga e pesquisadora associada do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), Camila Dias, acredita que os números de mortes de policiais no estado revela “um contexto de desequilíbrio das relações entre criminosos, sobretudo do PCC [Primeiro Comando da Capital], e a polícia”.
Segundo ela, os números de mortes de policiais e civis são altos porque decorrem “de uma guerra entre a polícia militar e o PCC”. Para ela, “Isto produziu um perverso círculo vicioso cuja expressão é a elevação das taxas de pessoas mortas, sobretudo com características de execução sumária”.
Para Camila, há erros na política de segurança pública estadual. “Há um 'mais do mesmo' que envolve o aumento do encarceramento e investimentos na Polícia Militar, com compra de equipamentos e armas e não se busca uma solução que vá além disso. Isso, aliás, não se limita a São Paulo”, disse ela.
Camila defende que uma das soluções para evitar esses conflitos é fazer uso da inteligência policial e de técnicas de investigação para identificar os responsáveis pelas mortes. “Mas não basta identificar e prender os acusados pelas mortes dos policiais. É evidente que isso é importante. Mas é fundamental, também, identificar os responsáveis pelas mortes de civis que aumentam exponencialmente quando ocorre execução de policiais e, muitas vezes, esse aumento se dá horas depois, no mesmo bairro. É preciso, assim, investigar seriamente esses crimes, principalmente se eles tiverem o envolvimento de policiais como muito deles parecem ter”.
Edição: José Romildo