Experiências podem propagar conceito de sustentabilidade para assentamentos rurais

22/05/2012 - 9h31

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Embora não haja uma orientação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) sobre construções sustentáveis nos assentamentos rurais, exemplos pontuais mostram que esse conceito poderá, em breve, se propagar para todos os estados brasileiros.

Uma dessas experiências é o Programa Terra Sol, do Incra na Bahia, que visa a promover o turismo rural nos assentamentos agrários. Para isso, o Incra está reformando a sede de duas fazendas que se transformaram nos assentamentos de reforma agrária Baixão, em Itaetê, e Boa Sorte Una, em Iramaia, ambos na Chapada Diamantina. Uma terceira sede está em construção no município de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, que reúne cinco assentamentos. A ideia, disse à Agência Brasil Alberto Viana, coordenador do Terra Sol na Bahia, é montar uma rede de meios de hospedagem para visitantes e turistas.

“Conseguimos incorporar ao projeto todos os requisitos de sustentabilidade que um meio de hospedagem pode ter”. Entre eles, destacou a energia solar e eólica (dos ventos), o biodigestor, a tinta à base de água, o aproveitamento de água da chuva, a coleta seletiva de lixo. No Assentamento Eldorado, em Santo Amaro, um dos bangalôs está sendo adaptado para portadores de necessidades especiais, “que também é um quesito de sustentabilidade”.

Outra preocupação é a incorporação da sustentabilidade social, a partir do mecanismo de autogestão dos empreendimentos pelas comunidades. “Assim como usar o próprio material da região para decorar e instalar as pousadas. Agora, a gente vai entrar com o projeto de paisagismo contextualizado, para utilizar plantas nativas”.

Duas das obras em reforma terão a parte física concluída em 15 dias. Alberto Viana acredita que no próximo verão todas as pousadas ecológicas já estarão funcionando, “com plano de gestão solidária e negócio solidário implantado. Essa é a nossa meta”.

Os empreendimentos serão administrados pelos assentados. “Quanto mais critérios de sustentabilidade tiver, mais demanda eles vão ter”. Os recursos obtidos com o turismo rural reverterão em benefício das comunidades e da manutenção das estruturas. Segundo Viana, a intenção do Incra/BA é levar esse tipo de construção sustentável  também para as casas  dos assentados rurais. O problema, acrescentou, “é termos engenheiros e arquitetos com especialização na  área de bioconstrução, que aproveite [garrafas] PET, que aproveite materiais da  região”. Ele lembrou que não há profissionais especializados nessa área nem no quadro do Incra nem terceirizados.

O  superintendente do Incra no estado do Rio, Gustavo de Noronha, disse que embora não haja experiência no estado, a meta é introduzir o conceito  de construções sustentáveis nos assentamentos fluminenses de reforma agrária. O processo, contudo,  ainda não foi iniciado.

O que está em fase de implementação no Rio de Janeiro são   projetos de desenvolvimento sustentável (PDS) nos assentamentos ambientalmente diferenciados. “São dois projetos em fase de implantação. Uma das áreas já está com pedido de licenciamento ambiental. O nosso objetivo é, nos próximos anos, dar prioridade, no Rio de Janeiro, à criação de assentamentos ambientalmente diferenciados”, relatou Noronha. Segundo ele, nos projetos haverá construções sustentáveis. “Nos PDS, essa preocupação existe”.
                                  
Outra experiência do Incra em termos de sustentabilidade foi feita em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) no Assentamento Trindade, localizado no município de Trindade do Sul (RS). Ela se refere à  utilização de aquecimento solar para a limpeza da sala de ordenha. O sistema, copiado de iniciativa realizada pela Emater em Entre Rios do Sul,  também no Rio Grande do Sul, trouxe ganhos para as cerca de 47 famílias que habitam o Assentamento Trindade. A energia solar beneficia hoje 22 famílias que trabalham em uma cooperativa que pertence ao assentamento.
 
O agricultor Adelfo Zamarchi, presidente da Cooperativa de  Produção Agropecuária de Trindade do Sul, disse que a medida  trouxe como principal benefício a economia de lenha “e, principalmente, os cuidados com o meio ambiente”. Na medida em que o sistema permitiu aquecer a sala de ordenha sem derrubar a mata, os assentados começaram a cuidar da preservação do meio ambiente. “A não destruir mais nada”.

Zamarchi estima que a tendência é que esse tipo de técnica sustentável se estenda  para outros assentamentos do Incra. “Como tem baixo custo - hoje R$ 500 fazem todo o processo do aquecimento -,  o Incra poderia estender esse processo para todos. Seria benéfico para todo mundo, não só para salas de ordenha, mas para as próprias propriedades, para o uso de aquecimento de água para banho, cozinha, para tudo. Assim que tivermos condições, a ideia é levar também para as famílias o aquecimento solar”.

A técnica da Emater/RS Carmen Zanella contou que os assentados de Trindade resolveram levar para a comunidade o processo de aquecimento solar ao participar de uma excursão à cidade de Entre Rios. “Quando viram a economia que o aquecimento para a limpeza das salas de ordenha traria, foi uma coisa fantástica”, disse Carmen. Foram usados na construção do sistema materiais recicláveis, como caixas de leite e garrafas PET. A Emater/RS e o Incra/RS estão trabalhando para que mais famílias de assentados implantem o sistema de aquecimento solar nas propriedades, “porque o caso de Trindade ainda é em nível de cooperativa”, explicou.

Edição: Graça Adjuto