Exportadores esperam que visita de Obama ajude a equilibrar comércio entre Brasil e EUA

17/03/2011 - 20h21

Luciene Cruz
Repórter da Agência Brasil

Brasília – É grande a expectativa dos exportadores brasileiros em torno da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil neste fim de semana. Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto, será o primeiro passo para equilibrar as relações comerciais entre os dois países. “O governo tem que fazer uma análise das reais necessidades e aproveitar o momento para ter benefícios e melhorar a balança comercial, que está deficitária”, avaliou.

De 2000 a 2010, a balança comercial entre os dois países passou de um superávit em favor do Brasil de US$ 290 milhões para um déficit de mais de US$ 7,7 bilhões, de acordo com dados consolidados do ano passado. Mesmo tendo perdido para China a posição de maior parceiro comercial brasileiro, os Estados Unidos foram o principal importador de produtos brasileiros. O Brasil exportou US$ 19,4 bilhões e importou US$ 27,2 bilhões. E os primeiros resultados do ano mostram que a relação deficitária se mantém em 2011. Em janeiro, as exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceram 21% frente o mesmo mês de 2010. Mas as importações subiram 36% no mesmo período. O saldo é deficitário em US$ 646 milhões.

No entanto, o presidente da Abracex não acredita que a visita de Obama se reverterá em medidas benéficas para o Brasil no curto prazo. “Aqui [no Brasil] as coisas são difíceis de acontecer rapidamente. A ideia é que essa aproximação entre os dois países determine que o tempo de espera seja menor”, emendou Segatto.

Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a visita vai beneficiar mais os Estados Unidos que o Brasil. “É politicamente positivo os Estados Unidos mostrarem ao mundo que têm prestígio com o Brasil, que caminha para se tornar o quinto país economicamente mais fortalecido”, disse. Para ele, o desequilíbrio da relação comercial com o Brasil não deve ser alterado rapidamente. “O déficit tem ocorrido há dois anos, consequência do real valorizado e da demanda aquecida pelo mercado interno. Eles não vão deixar de vender”.

Na opinião do executivo, esta é a oportunidade para reivindicar a quebra de barreiras tarifárias dos produtos brasileiros. “Temos que pedir a redução ou liberação de tarifas de alguns produtos como etanol, aço e suco de laranja, por exemplo”. Os Estados Unidos protegem o mercado interno de etanol à base de milho, considerado menos eficiente que o brasileiro, a base de cana-de-açúcar.

O óleo bruto foi o principal produto brasileiro vendido aos Estados Unidos no ano passado. Em 2010, a venda externa somou US$ 3,8 bilhões e representou 19,8% do total exportado pelo país. Também merecem destaque café em grão e pastas químicas de madeira, que ocupam a segunda e terceira posição na lista de produtos exportados, respectivamente. Entre as importações, o óleo combustível liderou as compras, com 6,6% do total ao custo de US$ 1,8 bilhão. A importação de motores e turbinas para aviação custou US$ 1,5 bilhão ao Brasil. Os medicamentos somaram US$ 1,2 bilhão.

O vice-presidente da AEB ressaltou que o Brasil deve fechar acordos, e não promessas, considerando que a vinda do presidente norte-americano se tornou um evento. “As ações da visita têm mais caráter de política de boa vizinhança. Fazer discurso na favela onde a maior parte dos ouvintes não vai entender o que ele [Obama] disser e visita ao Pão de Açúcar não vão mudar a atual desigualdade comercial”, criticou Castro.

Edição: Vinicius Doria