Cariocas comemoram vitória, mas cobram investimentos sociais

02/10/2009 - 17h02

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Nem o anúncio de que a cidade vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016 foi capaz de fazer com que alguns cariocas esquecessem os problemas enfrentados pelo Rio. Segundos após receber a notícia da vitória, em frente a um televisor colocado em uma rua da Saara [Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega], no centro de comércio popular da cidade, a aposentada Márcia dos Santos Souza disse que o evento pode trazer coisas boas para o país, mas preferia que os recursos fossem investidos em outras áreas, como saúde e segurança pública. “Eu acho que [a Olimpíada] vai trazer muitas coisas boas para o Brasil, mas eu seria contra. Nós temos muita violência no Rio de Janeiro, muita coisa errada. Os hospitais estão caindo aos pedaços. O dinheiro poderia ir para a saúde, a educação e para acabar com essa bandidagem”, criticou ela, ao lado do filho de 11 anos, para quem tenta conseguir um exame de tomografia há um ano, sem sucesso.“É como no Pan [Jogos Pan-Americanos de 2007]. Eles limpam a rua, mas depois volta tudo de novo: violência, mendigo, ladrão. Isso é gastar dinheiro à toa”, declarou ela.Pedidos de melhoria também foram feitos pelo advogado Gustavo Guimarães, ainda com os olhos vermelhos pelo choro da emoção. “Espero que as autoridades façam por merecer o que o Comitê Olímpico Internacional está fazendo por nós e pela ajuda que o povo brasileiro está dando. É um povo sofrido, mas que merece muito”, disse ele.Aos gritos de “Brasil-sil-sil”, a auxiliar de serviços gerais Joana Darc Marcelino era uma das mais entusiasmadas em meio à multidão que pulava de alegria. Mesmo assim, perguntada a respeito do que esperava com as Olimpíadas, respondeu: “Quero mais condução, saúde, paz e trabalho”, pediu a moradora do distante bairro de Santa Cruz, que lamentava o fato de a filha Raíssa ter largado o atletismo por causa de um namorado.Para outros, entretanto, a vitória das Olimpíadas era só motivo de comemoração. “Estou maravilhosamente bem, satisfeitíssimo. O Rio vai ganhar muito trabalho, muita beleza e organização”, exaltava o aposentado Fernando Antônio, morador de Minas Gerais, que aproveitou a visita à Saara para rever os amigos dos tempos em que trabalhou ali.Ao lado dele, vibrando com a festa, a cadeirante Elisabete Pereira Cruz, estudante de psicologia acompanhou desde o início a solenidade, realizada em Copenhague. Feliz com o resultado, ela fez apenas um pedido: “A gente quer educação e um Rio mais acessível”, lembrando que a cidade também sediará as Paraolimpíadas.