Roberto Maltchik
Repórter da Agência Brasil
Tegucigalpa - Uma delegação de seis funcionários da Organização dos Estados Americanos (OEA) chegou hoje (2) em Tegucigalpa para preparar a reunião de ministros de Relações Exteriores, prevista para a próxima quarta-feira (7), com objetivo de encontrar uma solução para a crise política no país.Osemissários da OEA foram discretos na chegada. O chefe do grupo,Victor Rico, não quis adiantar os nomes dos interlocutores que serãoprocurados nos próximos dias, nem mesmo a programação da comitiva nacapital hondurenha. "Viemos aqui para ajudar no diálogo entre os hondurenhos, por isso temos que ter o máximo de cautela", afirmou Rico ao desembarcar no aeroporto de Tolcontín.Ameta da representação da OEA é buscar a implementação do acordo de SanJosé, proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que prevê oretorno de Manuel Zelaya ao poder, com o comprimisso de que ele nãopossa alterar a Constituição na tentativa de buscar um novo mandato.Mesmodizendo-se disposto a encarar o diálogo, o presidente do governo golpista, RobertoMichelleti, ironizou a presença da OEA. Ao ser perguntado sobre achegada da missão e o impacto dela no país, respondeu: "A OEA vai bem,obrigado. Creio que esse assunto [a crise] é um problema hondurenho. Ológico seria que nós, hondurenhos, o resolvêssemos".Em reunião com quatro deputados brasileiros ontem(1º), Micheletti garantiu que não vai invadir a Embaixada doBrasil. Até mandou religar as linhas de telefones e deu livretrânsito aos diplomatas que se revezam no prédio da embaixada, queprossegue cercada por militares e pela tropa de choque da polícia local.Tambémem conversa com os parlamentares brasileiros, o presidente deposto,Manuel Zelaya, teria afirmado que está pronto para negociar. Segundo odeputado Raul Jungmann (PPS-PE), ele abre mão de poderes, está dispostoa ser julgado e ainda teria desistido de convocar uma assembleiaconstituinte, exigência feita pelo grupo ligado a ele. "Zelaya aceita ser julgado. Ele só não abre mão de voltar e concluir o seu mandato", disse o deputado brasileiro.Opresidente deposto ainda protestou, na conversa com os parlamentares do Brasil,sobre a falta de canais para iniciar o diálogo com o governo de fato. "Vieramempresários pra me ver e não os deixaram entrar. Jornalistas querem meentrevistar, mas não os deixam passar. Queria esclarecer a todos que ogoverno de fato não está estabelecendo contato comigo e não me deixa ter contato com a sociedade", disse.Ainda hoje,uma delegação de senadores dos Estados Unidos esteve em Tegucigalpa para auxiliar nas negociações. Um dos mais influentesempresários de Honduras, Miguel Facussé, disse que a paciência já está"chegando no fim", e prevê que a solução esteja a caminho. "Em uma semana creio que vai haver acontecimentos muito importantes para voltarmos à Honduras que conhecemos", afirmou.O impasse em Honduras também provoca uma guerra de números sobre a violência causada pelo golpe de 28 de junho.De acordo com o Comitê de Presos e Desaparecidos de Honduras, o número demortes chega a 12. No entanto, o comando da polícia de Hondurasconfirma apenas quatro mortes.Hoje,38 dos 54 camponeses presos ao serem retirados de um prédio público,ocupado há três meses, foram levados para uma penitenciária desegurança máxima, fora da capital Tegucigalpa. Eles são acusados porcrimes contra a administração pública.