Microsseguro vai inserir população pobre no mercado de seguro de pessoas no Brasil

29/09/2009 - 18h01

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O crescimento do microsseguro noBrasil poderá contribuir para a inserção nomercado de seguros de pessoas das classes C, D e E. Isso poderáser feito por meio de uma rede de vendedores que atuariam diretamentenas comunidades, disse hoje (29) o presidente do Clube Vida em Grupodo Rio de Janeiro (CVG-RJ), Lucio Marques. Embora o Decreto-Lei 73/66 estabeleçaque a comercialização de seguro só pode serfeita por meio de corretores habilitados, ele permite ao mesmo tempo“a angariação de seguros por simples angariadores,desde que não haja no local corretores registrados”. “Ninguém vai querer[ir auma comunidade popular] vender um seguro que custa R$ 2, R$ 3, eR$ 4,00”. Para Marques, a ideia é capacitar, como angariadorde seguro de pessoas, gente da própria comunidade. “Elespoderiam trabalhar oxigenando as apólices antigas e melhorandoa atuação das seguradoras”, disse. Marques acredita que a entrada domicrocrédito e do microsseguro no Brasil, a exemplo do queexiste em países onde a população de baixa rendaé numerosa, como a Índia, provocará umaverdadeira “revolução” na distribuiçãodo mercado. “Você vai chegar a pessoasque não tinham nenhuma capacidade de achar que, em determinadomomento, poderiam ter um seguro. Você está fazendo umapoupança de longo prazo. Isso é fundamental paraqualquer família brasileira”, afirmou. A capacitação dessesangariadores de seguros de pessoas poderá ser feita pelaEscola Nacional de Seguros (Funenseg). “O custo tem que ser mínimo,porque vai atingir uma população que não ganhamais do que US$ 2 por dia”, disse. Lucio Marques afirmou que o Brasilainda não tem uma cultura do seguro, como existe nos paísesdesenvolvidos. Atualmente, apenas 16% da populaçãoativa brasileira, estimada em mais de 191 milhões de pessoas,têm seguros de pessoas, que englobam os ramos vida,previdência, saúde, acidentes pessoais e capitalização.Esse percentual era de 12% há alguns anos. A participaçãono Brasil deveria ser, “no mínimo”, de 25% da população,avaliou o diretor do CVG-Rio, José Luiz Florippes.

Nos Estados Unidos, osseguros de pessoas movimentam cerca de US$ 600 bilhões porano, enquanto a Europa e a Ásia juntas a produçãoé de US$ 750 bilhões. Nas duas regiões, 50% dapopulação, em média, têm seguros depessoas. Na América Latina, a produção de segurode pessoas chega a US$ 23 bilhões por ano, dos quais US$ 12bilhões correspondem ao Brasil.

Segundo o presidente doCVG-RJ, outro fator que amplia as perspectivas de crescimento doseguro de pessoas no país é a melhoria da qualidade devida do brasileiro, que elevou a expectativa de vida para 72 anos.Lucio Marques estima que até 2050, a taxa de sobrevivênciano Brasil chegue a 85 anos, equiparando-se à do Japãohoje. “Serão três milhões de pessoas com maisde 100 anos”, afirmou.

Para Marques, a crisefinanceira internacional não vai afetar o seguro de pessoas noBrasil, uma vez que o valor dos desembolsos é baixo. Aexpectativa é que o setor cresça, este ano, entre 10% a15%, mantendo a tendência ascendente daqui para frente. No anopassado, o faturamento com o seguro de pessoas somou R$ 35,5 bilhões.Este ano, até maio, só a produção jáalcançou R$ 15,6 bilhões.

Em 1970, o segmentorepresentava 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB - a soma dasriquezas produzidas no país). Em 2002, esse númerosaltou para 0,34% do PIB, o que demonstra o potencial de crescimento,disse o vice-presidente do CVG-Rio, Anselmo Fortuna.

O CVG-Rio foi criada há43 anos com o objetivo de estimular o crescimento dos seguros depessoas no Brasil e reúne empresas seguradoras, corretoras eassessorias de seguros que operam nesse segmento de seguros. Aentidade estimulou o surgimento de outros CVG em São Paulo, noRio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo.