Roberto Maltchik
Enviado Especial da EBC
Tegucigalpa - Deacordo com a assessoria de imprensa da Casa Presidencial de Honduras,o governo pode suspender até quinta-feira (1º) o decreto queinstituiu o estado de sitio no país por 45 dias. A pressãopara pôr fim às restrições dos direitoscivis parte até mesmo da imprensa favorável ao governogolpista, da Justiça Eleitoral e do Congresso.Osdeputados de Honduras discutem esta semana uma moção derepúdio contra o decreto, anunciado no último domingo(27), depois que o presidente deposto, Manuel Zelaya, convocou umagrande manifestação contra o golpe de Estado. Hoje (29), o único representante da Organização dos Estados Americanos emHonduras, John Biehl, informou, em entrevista à TV Brasil, quea decisão de revogar o decreto já foi tomada.“Recebia informação de uma fonte muita segura do governo. Jáfoi decidido revogar o decreto. Me surpreenderia muito se isso nãoacontecesse”, disse o representante da OEA.De acordo com Biehl, uma comissão de ministros de RelaçõesExteriores deve chegar no próximo dia 7 de outubro emTegucigalpa. Hoje, um dos principais empresáriosdo país, Adolfo Facussé, propôs um acordo parapôr fim a crise, que iniciou com o golpe de 28 dejunho.Segundo a proposta, Manuel Zelaya retornaria ao poder,e Micheletti ganharia uma cadeira vitalícia no CongressoNacional. Zelaya, no entanto, seria imediatamente julgado por crimespelos quais é acusado, entre eles, acusações decorrupção. O empresário ainda pediu o envio deuma força internacional de segurança, composta por 3mil soldados.“O presidente Micheletti, de quem esperamosuma atitude patriótica, voltaria ao Congresso já nãomais como presidente, mas sim como mais um deputado”, disseFacussé. Mas, por enquanto, nem a Casa Presidencial nemo presidente deposto falaram sobre a proposta. O decretoimpediu pelo segundo dia consecutivo as caminhadas de protesto nasruas de Tegucigalpa. Os manifestantes tiveram que negociar com ospoliciais para permanecer em frente à UniversidadePedadógica.Também foram divulgadas hoje as imagens gravadas da ação dosmilitares para fechar o Canal 36, que fazia oposição aogoverno de Roberto Micheletti. As imagens do circuito de segurançamostram os militares arrancando os computadores, as antenas eos transmissores.Já na Embaixada do Brasil, os cerca de70 ocupantes exercitaram o corpo fazendo. Do lado de fora, seis caminhonetes descarregaram água,comida e produtos de higiene pessoal. O porta-voz da polícia,Jorge Molina, disse que Zelaya está preparado para ficar pormuito tempo dentro do prédio. “Se o ex-presidentesair, vamos cumprir as ordens de prisão que existem contraele”, garantiu. Um dos organizadores do golpe, o comandantedas Forças Armadas, Romeu Vasquéz Velasquez, consideroua possibilidade de dialogar com Zelaya. “Até em guerrasentre outros países existe diálogo. Uma hora isso teráque acontecer em Honduras”, afirmou em entrevista coletiva.Jáo presidente deposto, que está sitiado na embaixada do Brasilhá oito dias, pediu medidas ainda mais enérgicas dacomunidade internacional para acabar com o golpe. “Creio quese a OEA, a ONU e os Estados Unidos, responsáveis por 75% daeconomia do país, interrompessem a ajuda financeira o golpe sereverteria em poucas horas”, afirmou Zelaya.