Modelo energético brasileiro não valoriza energias renováveis, analisa o Gesel

31/08/2009 - 8h57

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As energias renováveis,especialmente a biomassa e a eólica, nãoestão sendo devidamente valorizadas pelo modelo energéticobrasileiro. A afirmação é do coordenador do Grupo de Estudos do SetorElétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro(Gesel/UFRJ), Nivalde de Castro. Estudoelaborado pelo Gesel mostra que daqui para a frente, à medida que asgrandes usinas hidrelétricas entrarem em operação,entre as quais as usinas de Jirau, Santo Antonio e Belo Monte, orisco hidrológico brasileiro será ampliado, uma vez queessas usinas são de fio d’água, ou seja, nãodispõem de reservatórios. “Elas vão gerar muita energiaenquanto chove e muito pouca no período da seca”. Issosignifica que no período de seca, que se estende de abril aténovembro, o Brasil poderá precisar de usinas termelétricase de energias renováveis. Do ponto de vista doGesel, as energias mais recomendadas nessa situação deescassez de água são a biomassa e a eólica.Nivalde de Castro esclareceu que não há possibilidade de opaís sofrer um novo apagão. “Mas, corre o risco deter energia muito cara no período seco porque, em vez de usara biomassa ou [a energia] eólica, cujo custo variável ézero, você vai despachar usinas termelétricas, cujocusto variável é muito alto”. Isso se aplicaespecialmente às térmicas a óleo. Segundo Castro, asregras vigentes nos atuais leilões de energia “nãoestão valorizando a importância dessas duas energias [a biomassa e a energia eólica]”.Ele esclareceu que, aparentemente, uma termelétrica de biomassapoderia ter a energia paga mais cara. “No fundo, porém, elaé uma energia que economiza reservatório a um preçomuito mais barato do que a termelétrica a óleo”. Alémdisso, é grande a disponibilidade no país desse tipo de energia. Castro afirmou que ausina de biomassa pode ser colocada no sistema rapidamente, porque setrata de um derivado da produção de açúcare álcool, da qual o Brasil é uma potênciamundial. No caso da fonte eólica, ele lembrou que o país tem um espaço “gigantesco” onde pode aproveitar essesrecursos. “E isso não está sendo levado em conta nasregras do leilão”. Ele defendeu que sejamfeitas algumas alterações nessas regras. A maisimportante, a curto prazo, seria realizar leilões específicospara cada fonte de energia, e não leilões genéricos,como ocorre hoje. Outra sugestão é fazer leilões“locacionais”, que identifiquem as regiões onde a energiapode ser produzida a um custo mais baixo. Em São Paulo, porexemplo, pode ser gerada grande quantidade de energia a partir da biomassa, porqueexistem muitas usinas e não há necessidade de gastosadicionais com linhas de transmissão. “Eu acho quealterações desse tipo são simples de serfeitas e trariam uma segurança para o setor elétricobrasileiro muito grande no futuro”. A projeção éde que ao final deste ano, a energia gerada a partir do bagaço decana alcance 4.500 megawatts (MW) de potência instalada noBrasil. Considerando a estimativa de 1,038 bilhão detoneladas de cana para a safra 2020/2021, o potencial de geraçãode energia nesse período será de 14.379 MW médios,revela o estudo do Gesel.Castro explicou que aexpansão da energia da biomassa acompanha o crescimento daprodução da moagem da cana. A tendência éde aumentar a quantidade de bagaço da cana e de palha, devidoà proibição crescente da queima. Em relaçãoà energia eólica, a potência instalada éde 417 MW. Outros 442 MW estão em construção,indica o estudo.O coordenador do Geselafirmou que as energias alternativas e renováveis sãomuito importantes para o Brasil, na medida em que podem manter amatriz energética do país não emissora de gás carbônico, não poluidora, ou seja, “manteressa vantagem comparativa que o Brasil tem”.