Estado deve pedido de desculpa à sociedade pelos anos da ditadura, diz ex-militante

06/03/2009 - 0h55

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O reconhecimento que a Comissão de Anistia deverá dar dar hoje (6) a mulheres que militaram durante o período da ditadura militar não basta para a reparação desejada por quem sofreu perseguições políticas à época. Para a funcionária pública Iara Xavier, ex-militante da Aliança Libertadora Nacional, o governo brasileiro deve um pedido de desculpas a toda a sociedade."Nos sentimos muito honrados pelo pedido de desculpas por parte da Comissão de Anistia. Mas o que nós ainda esperamos, sonhamos e aguardamos é que o Estado peça desculpas ao povo brasileiro pelo golpe de 64, pela derrubada do presidente João Goulart, e pela imposição dos anos negros da ditadura. Queremos um pedido de desculpa público como foi feito na Argentina e no Chile”, disse ela.A funcionária pública do governo de Mato Grosso, de 57 anos, é autora de um dos 17 processos de mulheres vítimas da ditadura e parentes que serão julgados hoje pela comissão, na 9ª Anistia Cultural, realizada pela segunda vez em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.Em 1968, a casa de Iara foi invadida pela polícia que buscava prender a mãe dela, Zilda Xavier. Dois de seus irmãos, além do companheiro, Arnaldo, foram assassinados. O pai teve que se exilar e Iara se refugiou em Cuba.A funcionária pública ressalta que quem perdeu parentes no período da ditadura ainda não obteve duas condições que ela considera essenciais para o encerramento de um ciclo: uma resposta sobre a forma como as mortes ocorreram e a punição dos responsáveis.“É uma dor infindável. Nós não temos ainda esclarecidas as circunstâncias das mortes, se foram torturados ou não. Não se encerra o ciclo, por isso queremos a abertura dos arquivos e a penalização dos agentes.”Para o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior, o órgão terá hoje mais uma oportunidade de reparar em parte as injustiças sofridas por mulheres que militaram nos anos da ditadura militar.“Hoje é dia de o Brasil pedir perdão a uma série de mulheres de vanguarda no país. Elas sempre estiveram à frente do seu tempo e por isso sofreram mais com o preconceito. É mais do que um dever, é uma obrigação do Estado”, afirmou Abrão.Segundo o presidente da comissão, as mulheres que terão requerimentos julgados hoje são responsáveis, em grande medida, pela liberdade e pela democracia vigente no Brasil nos dias atuais.