Procurador avalia que deportação foi pouco transparente, mas atletas queriam volta a Cuba

09/08/2007 - 15h06

Luiza Duarte
Da Agência Brasil
Brasília - Durante os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, no dia 22 de julho, dois boxeadores cubanos deixaram a Vila Olímpica e não voltaram mais. Eles só foram localizados dias depois na cidade fluminense de Araruama, na região dos Lagos. Após prestarem depoimento na Delegacia da Polícia Federal em Niterói, na última sexta-feira (3), Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara foram deportados no dia seguinte para Cuba.O processo rápido de extradição dos atletas gerou polêmica entre entidades que cuidam de refugiados políticos e no Congresso Nacional, onde a oposição acusou o governo de colaborar com o governo do presidente Fidel Castro. O partido Democratas divulgou uma nota oficial afirmando que o governo agiu de forma "ilegal" e "ditatória" no caso. Em resposta, o ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que os atletas foram ouvidos e foram eles que manifestaram a vontade de voltar ao seu país de origem.Motivado em saber o que realmente aconteceu, o procurador da República Leonardo Luiz de Figueiredo Costa, que atua no Ministério Público Federal em Niterói (RJ), esteve com os boxeadores no hotel onde eles ficaram hospedados, sob guarda da PF, antes de embarcarem de volta a seu país. Figueiredo Costa deu uma entrevista à Agência Brasil e levantou dúvidas sobre a transparência do processo de extradição dos cubanos, mas afirma repetidamente, que os pugilistas recusaram qualquer oferta de asilo ou refúgio político no Brasil feitos pessoalmente por ele."Deixei claro para eles que eu não era policial, que eu não era subordinado ao governo brasileiro, mas que eu poderia ajudar. E os lutadores pelos motivos pessoais deles recusaram qualquer ajuda minha. Não queriam refúgio, não queriam asilo. Insisti diversas vezes na ajuda do Ministério Público e eles disseram que não era necessário pois queriam voltar a Cuba", disse. Quanto ao fato dos atletas terem ou não visto para permanecerem no Brasil, além do encerramento dos Jogos Pan-Americanos, o procurador disse que não teve acesso à documentação dos cubanos levada pela delegação do país de volta a Cuba.“A Polícia Federal oficialmente os deportou. Inclusive, o delegado me mandou um termo de deportação, mas os atletas queriam sair do país, porque, se fosse o caso, se eles não quisessem, e quisessem proteção política brasileira ou coisa do gênero, talvez a deportação não devesse ser  efetuada, porque Cuba vive um regime de exceção e não havia garantia de que eles fossem ser julgados com imparcialidade", explicou. "Mas como os atletas pediam para voltar para Cuba, a única forma que o Ministério Público -  aqui eu falo por mim - poderia fazer seria pedir a prisão deles, e isso seria um contra-senso e quem seria totalitário seria o Brasil.”Mesmo afirmando estar convencido que os boxeadores cubanos queriam voltar para casa por motivos pessoais, o procurador pondera que a velocidade com que a deportação aconteceu foi mais rápida do que o normal. "Devido aos contatos que o governo brasileiro tem com o governo de Cuba, certamente a diplomacia cubana deve ter requerido ao governo brasileiro prioridade. Nesse caso, o governo brasileiro entendeu que deveria priorizar a localização dos pugilistas cubanos. Agora eu não tenho um documento que comprove isso. A gente tira isso da experiência prática do assunto, vivência que nós temos do sistema", disse.O procurador avalia que, diante da "relevância do caso e das repercussões internacionais", seria conveniente que o governo tivesse agido com mais transparência, "convocando o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e comissões de direitos humanos para que pudessem ter contato pessoal com os pugilistas". A pedido do procurador Figueiredo Costa, foi instaurado um inquérito para esclarecer as circunstâncias que levaram os atletas cubanos a deixarem a Vila Pan-Americana.