Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) apresentou hoje (14) relatório preliminar sobre as mortes ocorridas no estado entre os dias 12 e 20 de maio. O período corresponde à primeira onda de ataques atribuídos à organização criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital (PCC), marcados por confrontos com a polícia.O relatório aponta que 82 crimes cometidos no período são de autoria ainda desconhecida pela polícia e apresentam indícios de execução – há casos de pessoas mortas com até 21 tiros. “O que nós temos é um relatório com conclusões parciais. Em um número significativo de casos de morte violenta naquela semana, há indícios fortes de ocorrência de execução em pelo menos 80 deles", disse Paulo de Mesquita Neto, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).Esses indícios, acrescentou, surgem de fatores como: os assassinos serem pessoas encapuzadas ou utilizando capacetes de moto; os crimes terem ocorrido próximo à casa das vítimas ou ao seu ambiente de trabalho; os tiros disparados contra as vítimas serem à curta distância ou encostados ao corpo, e terem atingido áreas mais letais, como cabeça, abdômen e tórax. Segundo Antonio Funari Filho, ouvidor das Polícias de São Paulo e integrante da Comissão, criada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, os casos ainda estão sendo investigados, mas podem comprovar crimes contra os direitos humanos. “Apenas três eram mulheres. Grande parte das vítimas não tinha passagem pela polícia e foi morta covardemente em casa ou no trabalho”, disse. Ainda de acordo com o ouvidor, os 82 mortos eram civis e a maioria deles morava na periferia.Um problema para a conclusão sobre as mortes, segundo o ouvidor, é a falta de depoimento das testemunhas dos crimes. “Pedimos a quem saiba alguma coisa sobre essas mortes que telefone para o 0800-17-7070 e nos ajude a esclarecer esses casos”, acrescentou. Relatório divulgado no dia 1º pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), sobre as 493 mortes ocorridas em confrontos com a polícia em maio, apontou que 431 vítimas foram atingidas por disparos a longa distância (87,42% dos casos), 51 por disparos a curta distância e 11 por disparos encostados ao corpo. Em 475 casos (96,3%), as vítimas eram do sexo masculino e apenas 18 do sexo feminino. A maioria era jovem, com idade entre 21 e 31 anos (45% dos casos). A análise também constatou que 2.359 tiros foram disparados contra as 493 vítimas.