Lucio Gutiérrez chega ao Brasil como asilado após revoltas populares e destituição da presidência

24/04/2005 - 17h02

Érica Santana e Lílian de Macedo
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – Após enfrentar seguidas revoltas populares contra seu governo e uma votação no Congresso Nacional do Equador que resultou na sua destituição como presidente da República, Lucio Gutiérrez desembarcou no Brasil como o terceiro asilado político a ser autorizado pelo governo brasileiro. Os outros dois são o ex-presidente do Paraguai, general Alfredo Stroessner, e o ex-chefe da Polícia Secreta do Haiti, coronel Albert Pierre. O processo formal deverá ser concluído nessa semana com a concessão do visto territorial pelo Ministério da Justiça.

O equatoriano desembarcou em Brasília depois de uma movimentação estudada para não criar mais protestos e manifestações em Quito, principalmente em frente à embaixada brasileira, onde Gutiérrez estava abrigado desde sua deposição pelo Congresso na última quarta-feira (20). A estratégia foi classificada pelo brigadeiro da Aeronáutica, Joseli Parante, como uma verdadeira operação de resgate. "Havia dificuldades, mas nós decolamos com segurança. Apenas nos últimos 30 minutos que tivemos a certeza de sucesso. A decisão de resgate foi tomada em conjunto com o Itamaraty, Aeronáutica, embaixada brasileira e Força Aérea Equatoriana", relata. Gutiérrez chega acompanhado de sua mulher, Ximena Bohórquez Romero, e a filha Viviana Estefania. A segundo filha do ex-presidente, Carina Ximena, é cadete do Exército e preferiu continuar no Equador.

O governo brasileiro manteve em sigilo as informações sobre a liberação do salvo-conduto do ex-presidente do Equador Lucio Gutiérrez por questões de segurança. O salvo-conduto foi concedido na sexta-feira, mas só foi confirmado oficialmente após a saída de Gutiérrez do país. O documento era necessário para assegurar a integridade e liberdade do presidente deposto até seu embarque para o Brasil. A autorização foi assinada pelo novo presidente do país, Alfredo Palácio, e pelo ministro das Relações Exteriores do Equador, Antonio Parra Gil. O texto cita, inclusive, a nota diplomática brasileira que objetivava explicar a concessão de asilo político com a proposta de "contribuir com a estabilidade democrática equatoriana e com o retorno a normalidade" da situação interna do país.

No pedido de asilo político, enviado formalmente ao embaixador brasileiro em Quito, Sérgio Florêncio, o ex-presidente descreve que se sente "pessoalmente ameaçado" e "incapaz de garantir" a sua liberdade e integridade física diante da atual situação política do país. Gutiérrez está sendo processo na justiça comum do Equador, acusado de ter autorizado o endurecimento da ação policial contra manifestantes que pediam sua saída do poder. Centenas de equatorianos ficaram feridos durante os confrontos com os policiais, e pelo menos uma morte foi registrada – a do fotógrafo Julio Garcia.

Na Base Aérea, Gutiérrez não foi recepcionado por nenhum diplomata da embaixada do Equador em Brasília. Sob segurança da Polícia Federal, foi transportado de helicóptero para o Hotel de Trânsito de Oficiais do Quartel General do Exército Brasileiro, em Brasília. Na sua chegada, foi recebido por um grupo de mulheres e filhos de militares brasileiros. O equatoriano ficará hospedado no hotel até que haja a formalização de sua situação no Brasil.