Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Buenos Aires – Os argentinos estão indo hoje (27) às urnas para renovar metade da Câmara dos Deputados (127 dos 257 legisladores) e um terço do Senado (24 de 72 senadores). Nessa votação, além da composição do Congresso para os últimos dois anos de governo de Cristina Kirchner, o que está em jogo é o posicionamento das alianças políticas que devem disputar as eleições presidenciais de 2015.
Também essa é a primeira vez que votam menores de 16 anos (592 mil dos 30,6 milhões de eleitores). Eles já haviam participado das primárias, em agosto passado, para definir os candidatos dos partidos, mas nunca de uma eleição parlamentar.
Já a presidenta Cristina Kirchner, que está no meio de segundo mandato, não votará: ela está se recuperando de uma cirurgia, para retirar um coágulo do cérebro, e foi proibida pelos médicos de se deslocar em helicóptero ou avião ao seu distrito eleitoral, na província de Santa Cruz, no extremo sul da Patagônia argentina.
A votação coincide com o aniversario de 30 anos de democracia argentina: no dia 30 de outubro de 1983, os argentinos elegeram Raul Alfonsin – primeiro civil presidente, depois de sete anos de violenta ditadura, responsável pelo desaparecimento de 30 mil pessoas, segundo alguns cálculos. Desde 2008, foram abertos 75 processos na Suprema Corte da Argentina sobre crimes daquele período.
O sistema eleitoral argentino é complexo: cada partido ou frente partidária apresenta uma lista de candidatos para cada cargo em cada distrito eleitoral. São 24 distritos no total: 23 províncias e a capital Buenos Aires. Somente oito distritos, no entanto, vão renovar suas bancadas no Senado: a cidade de Buenos Aires e sete províncias, Entre Rios, Neuquén, Rio Negro, Salta, Santiago del Estero, Chaco e Terra do Fogo.
A composição do futuro Congresso vai depender do desempenho dos candidatos que encabeçam as listas partidárias. Quem obtiver a maior porcentagem de votos elege a maior quantidade de parlamentares de sua lista.
As prévias de agosto e as pesquisas de opinião indicam que o governo vai manter a maioria na Câmara dos Deputados, mas pode correr o risco de perdê-la no Senado. No entanto, Cristina Kirchner, que está na metade do segundo mandato, conta com a Lei de Emergência Econômica, aprovada pelo atual Congresso, que lhe dá poderes para administrar a economia por decreto.
Um dos desafios do governo é a inflação, que oficialmente é 10% ao ano – número contestado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), economistas independentes, a oposição e também pelos sindicatos aliados do governo, que pedem e têm obtido aumentos salariais de 25% (com base na inflação considerada real). A desconfiança provocou a disparada do dólar norte-americano no mercado paralelo, que vale o dobro do oficial. Outro tema presenta na campanha é a insegurança nas ruas.
Pela atual Constituição, Cristina não tem direito a disputar um terceiro mandato consecutivo, nem vai garabtur nesta eleição o apoio dos dois terços do Congresso que precisaria, caso quisesse modificar as regras do jogo. “Essa eleição, o que faz é definir as possibilidades e chances dos futuros candidatos às eleições presidenciais de 2015”, explicou à Agência Brasil o analista político Roberto Bacman.
Apesar de os argentinos estarem escolhendo 151 parlamentares, toda a atenção está concentrada em dois candidatos: Sergio Massa e Martin Insaurralde. Ambos são prefeitos de municípios da província de Buenos Aires (o maior distrito eleitoral, com cerca de 40% dos votos) e candidatos a deputado federal. Massa, que foi chefe de gabinete de Cristina, passou para a oposição, lidera a Frente Renovadora e é presidenciável. Insaurralde continua na Frente para a Vitoria (governista) e tem o apoio do governador de Buenos Aires, Daniel Scioli – que já manifestou sua intenção de candidatar-se à Presidência, se Cristina não disputasse uma segunda reeleição.
Nas primárias, Massa saiu à frente de Insaurralde – e espera-se que o mesmo ocorra nas eleições. Na cidade de Buenos Aires, o partido forte é o PRO, do empresário e chefe de governo Mauricio Macri – outro presidenciável da oposição. A capital é um dos oito distritos que renova a bancada no Senado. Os principais concorrentes são a Unem (do cineasta Pino Solanas e da ex-candidata a presidenta Elisa Carrió), a Frente pela Vitoria (governista) e a Frente de Esquerda.
Os primeiros resultados serão divulgados às 21 horas (22 horas de Brasília).
Edição: Davi Oliveira
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