Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – A Polícia Civil do Pará localizou ontem (22) na Fazenda Lagoa do Triunfo, em São Félix do Xingu, sul do estado, o corpo do trabalhador rural Welbert Cabral Costa, 26 anos, desaparecido desde 24 de julho. Segundo organizações civis de defesa dos direitos humanos como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o tratorista foi morto por seguranças da propriedade, na qual trabalhava, ao cobrar R$ 18 mil de direitos trabalhistas.
A Fazenda Lagoa do Triunfo pertence à Agro Santa Bárbara, que tem entre os acionistas o banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity. Segundo a Polícia Civil paraense, o corpo foi encontrado no interior da fazenda, a cerca de 15 quilômetros da entrada principal, onde, segundo testemunhas, Costa teria sido baleado por um segurança.
Auxiliados por bombeiros e peritos criminais, os policiais civis só chegaram ao local onde o corpo estava após receberem uma denúncia anônima. O corpo estava em estado avançado de decomposição e, embora tenha sido identificado por um irmão da vítima, ainda terá que ser submetido a uma necropsia no Instituto Médico-Legal (IML) de Marabá (PA). Uma caminhonete da Agro Santa Bárbara vai ser periciada, porque a polícia suspeita de que o veículo foi usado para transportar o corpo até o local em que foi encontrado.
Detalhes como os autores e a motivação do crime ainda estão sendo apurados, mas a Justiça Estadual já autorizou a prisão preventiva do capataz Maciel Berlanda do Nascimento, 31 anos, e do fiscal de serviços, Divo Ferreira, 44 anos. Os dois são os principais suspeitos do assassinato e estão desaparecidos desde o dia do crime.
De acordo com a Polícia Civil, testemunhas contaram ter visto Ferreira atirar em Costa. Depois, ele recebeu ajuda de Nascimento para ocultar o corpo. A polícia disse ter encontrado munição de calibres variados, um coldre de revólver e uma mira telescópica na casa de Ferreira. Já no interior da fazenda, policiais apreenderam duas armas de fogo, de calibres 36, e um estojo de espoletas (munição).
Em um nota conjunta divulgada no dia 9 de agosto, CPT, OAB, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (Fetagri) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) disseram que, segundo moradores da região, esse não seria o primeiro homicídio praticado no local com as mesmas características e motivação. Por isso, acreditam que exista um cemitério clandestino na propriedade.
O Grupo Santa Bárbara tem sido associado pela CPT a conflitos agrários no sul paraense. Em julho do ano passado, cerca de 400 integrantes da Fetagri ocuparam a Fazenda Itacaiúnas, em Marabá, que também pertence à Agro Santa Bárbara. Um mês antes, mais de 300 sem-terra haviam ocupado outra propriedade do grupo, a Fazenda Cedro, também em Marabá.
Apenas entre 2008 e 2012, a Agro Santa Bárbara alega ter registrado mais de 200 boletins de ocorrência contra invasões do MST a propriedades como a Fazenda Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás (PA). Por outro lado, a empresa já foi processada por desmatamento ilegal e alvo de uma operação que encontrou trabalhadores em condições análogas às de escravidão.
Em um relatório divulgado em agosto de 2012, a CPT identifica a existência de 38 lideranças e trabalhadores rurais ameaçadas de morte nas regiões sul e sudeste do Pará em decorrência da luta pela terra. Além disso, entre 1996 e 2010, 799 trabalhadores rurais foram presos, 809 foram ameaçados de morte e 231 foram assassinados no estado. Ainda segundo a CPT, no mesmo período, mais de 31 mil famílias foram despejadas ou expulsas de 459 áreas reivindicadas para assentamentos da reforma agrária.
A Agência Brasil procurou a Agro Santa Bárbara, mas ainda não recebeu resposta ao pedido de informações feito por e-mail.
Edição: Davi Oliveira
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