Cabral desiste de demolir parque aquático no Complexo Maracanã e diz que papa o deixou mais humilde

29/07/2013 - 21h15

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O governador do Rio, Sérgio Cabral, anunciou hoje (29) que desistiu de demolir o Parque Aquático Júlio de Lamare, no entorno do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. Pesou na decisão de Cabral a posição defendida pelo presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, e também a opinião pública.

Cabral disse que a passagem do papa Francisco pelo Brasil, especialmente pelo Rio de Janeiro, onde ficou sete dias, lhe provocou uma grande mudança. “Eu sou cristão. E me tocou muito a vinda do papa, como governador e como ser humano. A figura do papa me tocou. Certamente eu estava precisando muito de uma dose de humildade. E eu jamais terei vergonha de [fazer] autocríticas e reconhecer erros. [No episódio do Júlio de Lamare] eu errei em não ouvir, por isso estou voltando atrás”, disse Cabral, em uma entrevista à imprensa que durou aproximadamente 45 minutos, uma das mais longas que ele concedeu nos últimos meses.

O governador ressaltou que a decisão de preservar o Júlio de Lamare está tomada e já foi comunicada ao consórcio vencedor da licitação, formado pelas empresas IMX, de Eike Batista, da construtora Odebrecht, e do grupo internacional AEG, especializado na administração de arenas esportivas. Cabral disse que os R$ 30 milhões que o consórcio usaria para demolir e reconstruir o parque aquático serão repactuados no contrato.

O consórcio foi procurado pela Agência Brasil e informou, por meio da assessoria, que só iria se pronunciar quando fosse notificado oficialmente. Sobre o Estádio de Atletismo Célio de Barros, ele explicou que não há solução técnica para tornar a arena de nível olímpico e que ela terá de ser reconstruída em um terreno próximo, em uma área que pertencia ao Exército.

O governador comentou sobre as manifestações de rua feitas majoritariamente por jovens e declarou que deseja abrir um novo e permanente canal de diálogo. Fez inclusive um apelo aos manifestantes que frequentemente fazem protestos na rua onde mora, no Leblon. “Eu queria fazer um apelo aos manifestantes. Na porta da minha casa, eu tenho crianças pequenas. É o meu filho de 6 anos, é o meu filho de 11 anos. É um apelo de pai. Eu não sou um ditador. Estou aberto ao diálogo, às manifestações. Mas na porta de minha casa, não. Peço de coração, como pai”, disse. Desde ontem (28), um grupo de manifestantes está acampado perto da residência do governador.

Como prova de que deseja um novo tempo no relacionamento com os jovens, Cabral mandou retirar as grades que cercam o Palácio Guanabara há semanas, desde o acirramento das manifestações, usadas para proteger o prédio histórico, no bairro de Laranjeiras. Ao final da coletiva, todas as grades já haviam sido removidas.

“Ouvir a opinião pública, as críticas e sugestões, faz parte do processo democrático. É um processo de reflexão mesmo, de ter humildade de reconhecer e encontrar caminhos que sejam o melhor para todos". Cabral ressaltou que aceita inclusive discutir o destino do prédio do antigo Museu do Índio, que foi desocupado pela polícia. O governador disse que instruiu sua secretária de Cultura, Adriana Rattes, a construir uma linha de diálogo com os índios que permita até mesmo a reocupação do espaço por eles de alguma forma.

Sobre o uso excessivo de helicópteros, conforme noticiado pela imprensa, o governador declarou que só ele poderá fazer uso das aeronaves, até que se faça uma nova norma especificando o seu uso, o que exclui a utilização por sua família.

 

Edição: Aécio Amado

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