Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Mais de 100 pessoas, segundo a Polícia Civil, foram levadas para 78º Distrito Policial para averiguação durante o dia de hoje (13) no quarto protesto contra o aumento da tarifa de transporte público na capital paulista. A maioria foi detida pela Polícia Militar (PM) na região do centro enquanto se dirigia para o local do ato, o Theatro Municipal. Um repórter da revista Carta Capital foi detido e um fotógrafo do portal Terra, revistado.
De acordo com os policiais civis no local, muitos jovens foram levados para a delegacia por terem vinagre dentro das mochilas. Os agentes não souberam, no entanto, explicar porque o porte da substância foi considerado motivo para averiguação. Os manifestantes dizem que levam vinagre para se proteger do gás lacrimogêneo. Ainda segundo a Polícia Civil, as pessoas detidas estavam sendo todas liberadas e não havia registro de presos até as 20h30.
O estudante de geografia Tiago Gomes disse que ficou mais de quatro horas detido por ter vinagre na mochila. “O vinagre era para tentar me proteger do gás lacrimogêneo”, disse o rapaz, que nos outros três protestos promovidos pelo Movimento Passe Livre (MPL) foi atingido pelas bombas com a substância lançadas pela polícia. Levado para a delegacia no final da tarde, ele só pode sair depois das 20h.
Morador do Capão Redondo, periferia da zona sul paulistana, Jhonilton Sousa disse à reportagem da Agência Brasil que foi abordado no Largo São Francisco por policiais militares. Ao revistarem a mochila do jovem de 22 anos encontraram um cartaz de cartolina contra o aumento das passagens e uma jaqueta do movimento punk, com o símbolo da anarquia. “Aí ele disse: ah não, anarquia, não. E me levou preso”, relatou o jovem, que ficou mais de três horas na delegacia.
A história é semelhante à contada pelo jornalista Marcel Buono, de 23 anos. Ao chegar à Estação Anhagabaú do metrô ele foi abordado por policiais. “Logo na saída tinha uma fileira de policiais fazendo revista”, disse. Os PMs encontraram na mochila uma câmera de vídeo que o rapaz pretendia usar para filmar o protesto para um blog de cobertura colaborativa montado com amigos. Macel disse que os policiais foram truculentos na abordagem. “Colocaram-me dentro do ônibus [para levar para a delegacia] e tinha que sentar em cima da mão. Disseram que se tirasse a mão ia ser encarado como uma agressão”, relatou o jovem, que também só foi liberado após as 20h.
A manifestação de hoje, que reuniu 5 mil pessoas, segundo a PM, foi a quarta desde o dia 6 contra o aumento das tarifas públicas, que passou de R$ 3 para R$ 3,20 na semana passada. Em todas houve confronto com a polícia e depredações feitas pelos manifestantes.
A força tática usou bombas de gás e balas de borracha para tentar impedir os manifestantes de subirem a Rua da Consolação. O ato saiu da frente do Theatro Municipal e passou pela Praça da República. Os policiais negociavam com representantes do Movimento Passe Livre para que a manifestação se encerrasse na Praça Roosevelt, mas, durante a negociação, os manifestantes simplesmente continuaram com o protesto e seguiram adiante.
Após a repressão, grupos menores passaram a espalhar lixo pelas ruas e atear fogo, fazendo barricadas nas ruas, a exemplo do que foi feito nos outros atos. Desde o começo da manifestação, a polícia acompanhou o ato com grande contingente e prendendo diversas pessoas. Às 22h, a Cavalaria e a Força Tática ainda disparavam gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que chegaram a região das avenidas Paulista e Doutor Arnaldo. Ambas as avenidas foram fechadas. Nas ruas, os transeuntes tentavam se proteger dos efeitos da munição química.
Edição: Fábio Massalli
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