Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Edmilson Luiz Lourenço da Silva, 20 anos, tem síndrome de Down e um grande talento para a culinária. Quando se tornou aluno da Associação para Desenvolvimento Integral do Down (Adid) há sete anos, não sabia ler nem escrever, mesmo tendo frequentado a rede de ensino comum. Depois de se alfabetizar e ter o potencial para a gastronomia revelado, ele foi contratado pelo Senai como auxiliar de ensino em panificação.
A contratação, que ocorreu há uma semana, veio depois que ele ficou em quarto lugar na Olimpíada do Conhecimento, promovida no final do ano passado pelo Senai. Participaram da competição alunos de todo o país com deficiência intelectual e que treinavam há mais de dois anos. Edmilson competiu na categoria de panificação, curso no qual havia se matriculado juntamente com estudantes sem deficiência, há apenas 5 meses.
“Na Olimpíada, eu fiz um pão de trança com açúcar cristal em cima. Sempre gostei de cozinhar. Na minha casa, eu fazia arroz, feijão, carne, macarrão, sopa, frango assado”, conta Edmilson.
O talento do rapaz vem sendo aprimorado desde então e os pães fazem sucesso. “São uma delícia, os pães do Edmilson nunca sobram”, diz Alda Lúcia Pacheco Vaz, diretora educacional da Adid. Segundo ela, as pessoas com a síndrome que são atendidas pela associação e que ingressam com idade superior a 14 anos recebem orientação vocacional.
“Até algum tempo atrás, as possibilidades oferecidas [para portadores de síndrome de Down] eram mais na área de atendimento ao público e de auxiliar administrativo. Mas nós queríamos muito mais que isso e eles também querem mais. Direcionamos de uma forma diferente o trabalho de orientação vocacional para que eles pudessem se descobrir.”
Segundo a diretora da instituição, a Adid é uma entidade sem fins lucrativos, que atende a cerca de 70 crianças, adolescentes e adultos. Desde o ano passado, a associação passou a oferecer também atividades escolares de base, no ensino fundamental (do 1º ao 5º anos), com reconhecimento do Ministério da Educação (MEC). “Esse certificado tem valor no mercado de trabalho, as empresas sempre perguntam o nível de escolarização.”
Para auxiliar no processo de orientação vocacional dos jovens e adultos na Adid, são feitas visitas às empresas que possibilitam ao aluno descobrir a atividade com a qual mais se identifica e suas preferências no mercado profissional. O próximo passo, explica Alda, é o início das vivências educacionais, que são uma espécie de estágio não remunerado.
Beatriz Cardoso Miranda, 25 anos, começou a trabalhar há duas semanas como recepcionista de uma academia de ginástica. Além de trabalhar, ela é destaque na Adid pelo seu talento artístico – Beatriz é dançarina do ventre, atriz e faz atividades circenses como dança no tecido e trapézio.
Pelos trabalhos artísticos, Beatriz recebe até cachê. “Sempre vou ao banco, eu mesma, e coloco tudo na poupança”, conta ela. “Ela é super tímida, mas na hora de [vestir] a roupa de dançarina do ventre, muda completamente”, conta a mãe da artista, Rosa Cardoso Miranda.
A única coisa que deixa Beatriz tão animada quanto dançar e se apresentar em público é o namorado Felippe, de 20 anos.“Por enquanto, eles estão só no beijo. A gente vai orientando o que deve, o que não deve. Ficam juntos, sozinhos, no quarto assistindo à televisão, mas vira e mexe tem que dar umas olhadas. Eles têm uma sexualidade muito aflorada, então é prevenir, acompanhar”, conta a mãe de Beatriz.
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Edição: Tereza Barbosa
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