Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A hierarquia militar, o preconceito de gênero e o volume de trabalho são as principais causas do estresse entre as mulheres que atuam na Polícia Militar do Rio de Janeiro. A informação consta do levantamento Estresse Ocupacional em Mulheres Policiais, elaborado pelo Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves).
Com previsão de ser lançada ainda este mês, na Revista Ciência e Saúde Coletiva, a pesquisa ouviu 42 policiais e constatou que as oficiais estão mais submetidas a estresse do que as praças. A hipótese é que o problema nas patentes mais altas resulte da relação entre mais responsabilidade, número reduzido de subordinados e falta de autonomia.
“As oficiais têm maior poder de decisão e, por esse motivo, as restrições de seu posto por questões hierárquicas da própria instituição as afetam mais intensamente”, avalia a doutora em Saúde Pública Maria Cecília Minayo, uma das autoras da pesquisa. Estudando o tema há dez anos, a especialista explica que, dentre as profissões, a de policial é a que concentra o maior estresse.
No caso das praças, além do volume de trabalho e da falta de equipamentos, são agravantes o medo de serem punidas por pequenos deslizes e a discriminação por causa da patente na hora da alimentação – prática comum na corporação. “São três tipos de comida: tomate para os praças, legumes para os sargentos e tudo e mais alguma coisa para os oficiais”, contou uma das entrevistadas.
Outro problema é a discriminação na distribuição de tarefas. Para as entrevistadas, o comando da PM prefere homens em funções operacionais. “A gente tem de lidar com essa questão [de gênero] o tempo todo mostrando que estamos lado a lado. Eles dizem: 'terei de cuidar de bandido e da mulher, pois, em vez de atirar, ela vai passar batom'”, contou uma policial.
São sintomas frequentes do estresse entre as policiais problemas como hipertensão, gastrite, insônia, crises alérgicas, falha de memória, dores no corpo e queda de cabelo. Outro reflexo é o isolamento da família, prática que adotam “para não descontar os problema do trabalho” e o sentimento de culpa com os filhos. É que, em casa, elas preferem ficar a sós ou dormir.
Diante desse quadro, as policiais avaliam que o relacionamento com o público externo é mais fácil do que com colegas e chefes e chegam a admitir que estão na corporação pela estabilidade no emprego. “Para muitas, o prazer não compensa o estresse”, informa o documento.
Vinculado à Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Claves recomenda à PM do Rio “que revise sua organização e suas práticas sob a perspectiva de gênero”.
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Edição José Romildo
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