Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em uma fazenda no interior do Pará, um adolescente de pouco menos de 18 anos ouve, no rádio, o apelo de uma mãe que procura pelo filho há 12 anos, desde que o marido a expulsou de casa. Sem documentos e sem autorização do pai, o ouvinte da Rádio Nacional da Amazônia precisou esperar dias para que representantes do Conselho Tutelar de Pacajá se sensibilizassem com o caso e organizassem toda a documentação para o retorno ao convívio com a mãe. Os dois vivem juntos até hoje.
A história que se assemelha a um enredo de novela não apenas é real como é acompanhada pela comunicadora Sula Sevillis, que apresenta o programa Ponto de Encontro da Rádio Nacional da Amazônia, há 28 anos. O ouvinte ainda mantém o contato com Sula para contar detalhes da nova vida. As cartas com esse tipo de apelo, com recados para parentes ou dúvidas sobre direitos e serviços, chegam diariamente ao estúdio do programa. Pelos telefones, ouvintes ocupam por mais de uma hora a programação, com mensagens e agradecimentos.
“Sabemos que quase 60 famílias se reencontram por ano por causa do programa. Mas esse número pode ser maior porque muitos não voltam a ligar”, contabiliza ela. “Rádio é minha vida. Não me vejo fora daqui. Isso que faço é a principal coisa na minha vida”, conta, emocionada ao destacar a capacidade do veículo de chegar aos lugares mais distantes levando informação e serviço.
No caso da Rádio Nacional da Amazônia – que, desde 1977, quando iniciou as transmissões em ondas curtas, chega a regiões onde internet e televisão são serviços restritos – a relação entre os comunicadores e a comunidade é ainda maior. “Os ouvintes dizem que sou a companheira diária deles, porque estou em suas casas, preparamos o almoço 'juntos', 'vou para a fazenda com eles'. O comunicador entra na casa dessas pessoas e elas sentem como se nós fizéssemos parte da família delas”, descreveu Sula Sevillis.
Quase 60 milhões de pessoas em toda a Região Norte e os moradores de estados como o Maranhão, o Piauí, a Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás recebem os sinais da emissora. “A Nacional da Amazônia nunca foi uma emissora apenas de entretenimento, sempre levamos informação e serviço para essas pessoas e uma visão diferente de um mundo que estão longe dessas regiões remotas que não têm, em muitos casos, acesso à internet, por exemplo”, disse ela.
Os relatos de reencontros se somam, na trajetória da emissora, a histórias de pessoas que retomaram estudos ou de idosos que descobriram direitos e conseguiram mudar suas vidas. Essa aproximação do ouvinte é uma característica também da Rádio Nacional AM de Brasília. A emissora tradicional e popular mantém, desde 1958, o espaço na programação para a participação do ouvinte.
Uma das primeiras pessoas a testemunhar o início dessa relação entre ouvintes e as emissoras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi Edson de Jesus Nery, conhecido carinhosamente como Burrinho. O operador que chegou à Rádio Nacional como estagiário em 1965, hoje coordena a área responsável pela logística dos programas e apresenta, há 35 anos, programas com canais diretos com o ouvinte.
“Eles sabem que aqui a gente ouve as mensagens. Os ouvintes ligam para brincar, para mandar recados para os parentes que estão longe. A emissora sempre esteve do lado do povo e transmite tudo pensando no interesse de quem nos ouve”, disse ele, ao destacar que “as pessoas ligam para agradecer”.
Edição: Juliana Andrade
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil
Primeira emissora FM da capital do país, Rádio Nacional criou estilo próprio
Na América Latina, rádio cumpriu papel de integração, dizem especialistas
Rádio muda na forma de transmissão, mas continua sendo fundamental à sociedade, diz professor
Rádio digital é desafio para o país, mas testes realizados não foram satisfatórios
Rádio está presente em 88% das residências e número de emissoras dobra em 10 anos