Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - É perfeitamente compreensível e realista a opinião manifestada ontem (5) pela presidenta da Petrobras, Graça Foster, de que a estatal ainda terá um ano de 2013 bastante ruim antes de retomar o processo de recuperação da companhia, o que só deverá ocorrer dentro de três ou quatro anos – ainda assim se o acionista majoritário, no caso o governo, ajudar.
A opinião foi manifestada à Agência Brasil pelo economista Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, para quem a boa nova surgida por ocasião da divulgação do Balanço Financeiro da Petrobras relativo a 2012 - cujo lucro líquido foi R$ 21,1 bilhões, resultado 36% menor do que o de 2011 e o pior desde 2004 – foi exatamente a sinceridade de sua presidenta.
“Graça Foster está certa e é sim, perfeitamente possível, que 2013 venha a ser um ano ainda pior para a companhia. A boa notícia na entrevista de ontem diz respeito à sinceridade de sua presidenta. A franqueza e a coragem que ela teve para não pôr panos quentes e falar a verdade - coisa que não ouvíamos na gestão anterior”.
Na avaliação de Pires, doutor em Economia pela Universidade de Paris e especialista na área de energia, a situação pode piorar ainda mais porque o reajuste da gasolina concedido pelo governo na semana passada não foi suficiente para fazer frente à defasagem dos derivados em relação ao preço do barril de petróleo no mercado externo e pelo fato do mercado não acreditar em um novo reajuste ainda este ano.
“O reajuste foi pequeno e, como a própria presidenta Graça Foster admitiu, ele não acabou com a defasagem existente. Ele alivia por pouco tempo, dá um certa oxigenação no caixa da companhia, mas não resolve o problema; e, em segundo lugar, porque o problema de geração de caixa continua, porque não há perspectiva de novos reajustes em 2013, porque estamos passamos por um processo inflacionário com as taxas crescendo acima da meta. Sem falar no fato de que, do meio do ano para frente, começa a campanha para presidente da República e, em tempos de campanha, nenhum partido mexe no preço da gasolina”.
Segundo Pires, o principal motivo para o péssimo desempenho da Petrobras em 2012 foi o controle dos preços dos combustíveis imposto pelo governo, que se mantiveram fortemente defasados em relação ao mercado internacional. “E isso aconteceu em um momento de forte crescimento da demanda, quando a empresa se viu obrigada a elevar substancialmente as suas importações de gasolina e diesel, ocasionando um prejuízo de R$ 34,2 bilhões na área de abastecimento. Com isto, o prejuízo na área de abastecimento cresceu 136% em relação ao ano de 2011 e o resultado de 2012 só não foi pior devido a R$ 2,6 bilhões em receitas financeiras”, disse.
Para piorar ainda mais o cenário para a empresa, Pires lembra que o preço do barril do petróleo no mercado externo deve ficar mais caro em 2013, porque a economia americana está voltando a crescer e com isto aumenta o preço do barril do petróleo. Pires entende que, não havendo novos reajustes de preços, o custo do barril de petróleo subindo no exterior e as importações de gasolina crescendo este ano em torno de 22%, como admitiu o diretor Financeiro da companhia, Almir Barbassa, o cenário que se aproxima é de aprofundamento ainda maior das perdas na área internacional.
“A empresa está numa encruzilhada e, no caso da Petrobras, eu diria que é a Escolha de Sofia: se a empresa aumenta o preço explode com a inflação que já volta a dar sinais de que está saindo do controle; mas por outro lado, se não aumenta, explode a própria empresa. A verdade é que o governo deixou as coisas chegarem em um ponto que vai ser difícil de retomar a fase e a trajetória de eficiência e de lucratividade que teve em um passado recente”.
Na avaliação do economista, o cenário é complicado e a recuperação só deverá ocorrer em um horizonte de três anos. “O que está assustando o mercado é que as captações continuarão para que a empresa consiga manter o padrão de investimento. Com a piora da geração de caixa da empresa e o efeito da desvalorização cambial sobre a dívida, a relação dívida líquida/Ebitda [Lucro antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização] elevou-se para 2,77 [em 2011, a relação era 1,66] e tendência é que aumente ainda mais, fato que pode provocar um futuro rebaixamento da classificação de risco da empresa, o que dificultaria e encareceria o custo da captação”.
Para Pires, aparentemente, a empresa pretende elevar seu caixa e financiar seus investimentos às custas da diminuição do pagamento de dividendos aos acionistas. “Pela primeira vez, o dividendo dos papéis ON será muito menor do que o dos PN: R$ 0,47 e R$ 0,96 por ação, respectivamente. E esta não foi uma boa sinalização para o mercado, porque foi uma decisão que não passou pela Assembleia de Acionistas da companhia. Deixou de pagar R$ 3 bilhões, o que para o mercado é um retrocesso”.
O economista disse, por outro lado, que a sinalização de que haverá uma nova capitalização na empresa não será uma boa ideia. “O mercado já está falando de uma nova capitalização, o que é temerário porque a última, em 2010, foi um desastre e significaria diminuir ainda mais as ações do minoritários”.
Apesar das considerações negativas à respeito da situação da empresa no curto prazo, Pires elogia a atual administração da estatal e afirma que a presidenta é “a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa”.
“Acho que a Graça está fazendo o possível, se empenhando ao máximo. Acho que é a pessoa certa no lugar certo, na hora certa - até pelo seu realismo e sinceridade. É funcionária de carreira, conhece a empresa e tem conhecimento do setor. Não vejo ninguém melhor do que ela neste momento para ocupar o cargo. Ela é objetiva, não esconde as coisas, mas a missão dela é difícil para caramba”, avaliou.
Aliada á capacidade da presidenta, Pires ressalta, como fatores positivos para a empresa o fato de que ela tem grandes reservas de petróleo e gás natural. “O positivo é que a Petrobras tem condições de sair deste buraco até porque ela tem reservas. Petróleo para caramba, tem gás em abundância, mas para a sua recuperação serão necessário mais uns três anos. Para isso, o acionista majoritário teria que ajudar”.
Edição: Fábio Massalli
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