Da BBC Brasil
Brasília - O ministro da Defesa, Celso Amorim, criticou neste sábado (15) a presença, por prazo indefinido, das tropas internacionais no Haiti, e condicionou uma eventual retirada definitiva dos militares ao aumento dos investimentos em infraestrutura no país.
''Não é bom para o Haiti, que é no caso o que mais importa, nem pra ninguém, que as tropas fiquem lá indefinidamente", disse Amorim, em Moscou, na Rússia.
O ministro da Defesa fez parte da delegação oficial brasileira que acompanhou a presidenta Dilma Rousseff em sua visita oficial ao país.
O Brasil exerce o comando militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), e tem o maior número de soldados mobilizados no país, entre 18 nações.
Amorim disse não poder falar em um possível "prazo" para a retirada dos soldados. Segundo ele, é preciso primeiro investir em melhorias no país que permitam diminuir sua dependência da ajuda internacional.
O Haiti é o país mais pobre do Ocidente e foi devastado por um terremoto em 2010, que matou cerca de 250 mil pessoas. ''Não temos porque nos preocupar com prazo. Vai haver uma diminuição ao longo do ano dos militares brasileiros, de 400 soldados. A ideia é levarmos (o número do contingente) a níveis pré-terremoto'', disse o ministro.
Para Celso Amorim, o plano de retirada definitiva, no entanto, tem de ser feito com a coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU) e depende de investimento internacional. ''A ideia é que haja desenvolvimento no Haiti, que é a maneira de realmente diminuir substancialmente o problema da segurança'', afirmou.
O minstro da Defesa acredita que um possível efeito colateral negativo da presença das tropas comandadas pelo Brasil seja uma "sensação de conforto" por parte da comunidade internacional.
''Com as tropas brasileiras lá e outras sul-americanas, que são a maioria, dando a impressão de que poderiam ficar indefinidamente, cria uma sensação de conforto. A tão propalada comunidade internacional pode dizer "ah, tudo bem, porque os brasileiros estão lá garantindo", mas o que é preciso são recursos para o desenvolvimento.''
Na Rússia, Amorim firmou algumas parcerias com o setor de defesa russo, entre elas uma que estabelece a aquisição de helicópteros militares.
Em janeiro de 2013, uma delegação comandada pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi, vai ao país para negociar uma possível colaboração no setor de defesa antiaérea. O general estará acompanhado dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e de representantes da iniciativa privada.
Para Amorim, a experiência da Rússia no setor poderá ser importante para o Brasil. ''Com o Brasil se tornando a sexta economia mundial, com as riquezas que a gente tem, temos a consciência de que o país tem de cuidar progressivamente de sua defesa'', disse.