Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os traços do arquiteto Oscar Niemeyer, morto na noite desta quarta (5), foram além das pranchetas e das grandes construções de cimento armado. A leveza das formas curvas que o notabilizou internacionalmente estão em muitos livros escritos pelo próprio e que não falam apenas de arquitetura. São prosas e crônicas sobre situações cotidianas e pela construção de um país mais justo.
Sobre Niemeyer, as homenagens e títulos concedidos são incontáveis. O arquiteto já foi enredo de várias escolas de samba do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. É lembrado em canções da música popular brasileira, em documentários e textos, como o que Chico Buarque escreveu quando o arquiteto completou 90. Nele, além de homenagear um dos criadores de Brasília, Chico faz uma espécie de autobiografia, lembrando momentos de sua infância e adolescência.
“... Havia um terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo, a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida...”, conta Chico.
“... Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar. Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar.”
Os desenhos e projetos famosos do arquiteto também inspiraram uma coleção de jóias de ouro e diamantes, vendidas com exclusividade por uma tradicional joalheria brasileira.
Edição: Nádia Franco