Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Apesar do reconhecimento internacional e de servir como referência para muitas gerações de arquitetos no Brasil e no exterior, a obra de Oscar Niemeyer, morto na noite de hoje (5), nunca será reproduzida devido ao grau de criatividade individual em cada uma delas, diz o arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil.
Magalhães se emociona ao falar do “mestre”, cujos traços de Niemeyer têm tamanha força e magnitude que se concretizam em obras ímpares, tornando-as imediatamente reconhecíveis como suas.
“Embora estejam sob alguns parâmetros que são comuns à arquitetura moderna, seu modo de projetar e sua expressão têm uma dose muito importante de sua criatividade individual, o que faz com que seus traços sejam admirados, mas não reproduzidos”, ressalta Magalhães.
Na tentativa de ampliar e melhorar a explicação, Magalhães lembra o também mestre Le Corbusier, arquiteto francês de origem suíça, que influenciou as primeiras obras de Niemeyer. Este, segundo ele, concebia sua arquitetura de forma que dava condições para que outros arquitetos, usando seus princípios, alcançassem resultados parecidos.
“No caso de Niemeyer é diferente. Outros podem partir dos mesmos princípios, mas a expressão plástica contida na obra não será a mesma”, disse ele, enfatizando que, “mesmo depois de todo o reconhecimento, os traços que surgem das pranchetas de Niemeyer continuam sendo um estímulo para investigação e correta inserção na engenharia de nossas cidades. É uma lição que aprendemos a cada dia.”
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro, Agostinho Guerreiro, Niemeyer teve grande inspiração ao conseguir juntar a sinuosidade de suas curvas com a geometria. “Ele foi muito sábio, e sempre lembro o que ele disse uma vez para mim: 'Olha, Agostinho, a arquitetura e a engenharia têm que andar sempre juntas. Eu não seria ninguém sem os engenheiros”.
Engenheiro agrônomo e professor de engenharia de produção da Coordenação de Programas em Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Guerreiro lembrou outra conversa que teve com Niemeyer, em que o arquiteto disse-lhe que foi expulso do Brasil pela ditadura militar e que, ao seguir para o exterior, levou sua obra, que acabou alcançando reconhecimento mundial.
Ainda assim, Guerreiro acredita que a obra de Niemeyer deveria ser mais debatida nas faculdades de arquitetura e engenharia. “Ele é uma referência e sempre se portou como uma pessoa muito humilde, defendendo a inclusão de todos na sociedade”, finalizou.
Edição: Nádia Franco