Programas de formação de recursos humanos do setor de óleo e gás indicam carência de pessoal

18/08/2012 - 17h09

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O professor de engenharia mecânica da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Antonio Figueiredo, disse à Agência Brasil que os programas de formação de recursos humanos do setor de óleo e gás indicam “enorme carência de pessoal”. O Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) é um deles, disse Figueiredo, que também preside o Conselho Consultivo da Coppe.
 
Para ele, a questão é que os responsáveis por lidar com esse fator têm olhos apenas para as universidades e se esquecem da importância que representam também para a formação de um profissional os ensinos básico e médio. O problema, acrescentou Figueiredo, é que não entra nas universidades uma quantidade suficiente de pessoas que atenda a todas as profissões de nível superior com um mínimo de qualificação.
 
“Então, a gente tem um dado evidente de cobertor curto. Se você puxar, por exemplo, para incentivar a remuneração para uma área, necessariamente vai faltar para outra”. Esse é um problema estrutural e de planejamento de horizonte de médio e longo prazo que o país tem que enfrentar, comentou. “É preciso formar mais nos ensinos de nível básico e médio para chegar mais gente à universidade, em condições de se formar, em quantidade e em qualidade”.
 
Figueiredo criticou o que, na sua opinião, parece uma recusa do Brasil e da sociedade de encarar a questão de frente. Ele considera que as exigências de desenvolvimento de tecnologia nacional podem agravar ainda mais o problema. “Vai agravar e de uma maneira que é, estrategicamente, um desastre para o país”.

O sistema de pós-graduação da Coppe já vive essa situação de redução da demanda de interessados em fazer programas de mestrado e doutorado. Isso tem dois impactos estratégicos que são “mortais para uma perspectiva de desenvolvimento minimamente avançado do país”, observou.
 
A consequência é que haverá redução do número de pessoas na pesquisa, desenvolvendo tecnologias novas e voltadas a estudar problemas mais complexos. “E,  mais grave ainda, a renovação dos quadros docentes, que vai formar os engenheiros do futuro, começará a sofrer em algum momento”.

A discrepância salarial existente na área de óleo e gás é provocada pela falta de gente. Se houvesse mais engenheiros disponíveis, os níveis salariais, “até por uma questão de maior oferta”, não seriam tão altos. Ele disse que na área de graduação de engenharia, os formandos com qualificação são “caçados” pelas empresas para estágio, percebendo salários elevados. “Poucos com qualificação conseguem resistir para fazer mestrado ou doutorado”.
 
Embora esse procedimento esvazie a pós-graduação, Figueiredo admitiu que isso é bom, porque significa que os profissionais têm posições boas no mercado de trabalho. De cada 100 pessoas que entram no ensino fundamental, apenas 11 ou 12, em média, entram na universidade no Brasil. E dessas, somente cinco ou seis se formam. “Não tem jeito. É um funil enorme”.

Segundo o professor da Coppe, a questão é urgente e exige uma solução de curto prazo, imediata. “Mas tem que haver uma preocupação também com o problema estratégico de médio e longo prazo”. Para ele, programas como de distribuição de computadores nas escolas, são soluções superficiais. “É preciso ter uma visão estratégica, de longo prazo".
 
Figueiredo ponderou que a pressão para abrir as fronteiras para engenheiros de outros países, aproveitando o excedente que está sem emprego devido à crise internacional, deve ser analisada com cautela. “É uma medida que pode ser até politicamente esperta”. O correto, porém, completou, é formar gente dentro do próprio país.

Edição: Graça Adjuto