Método de "referências" prejudica recrutamento de profissionais para setor de petróleo e gás

18/08/2012 - 12h25

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
 
Rio de Janeiro - O engenheiro industrial Agustín Castaño, diretor-presidente da Energy Talent - consultoria especializada no recrutamento de executivos e técnicos nos mercados de petróleo e gás, infraestrutura, engenharia e recursos naturais - disse que embora haja uma demanda “teoricamente” não satisfeita nos setores técnico e de alta especialização, está difícil contratar mão de obra qualificada para as empresas da área. “Você tem que procurar até estrangeiros, às vezes brasileiros que moram no exterior, que são uma boa fonte de recursos, e os salários do setor técnico, por essa demanda importante, crescem além do que seriam os padrões internacionais”, explicou.
 
Para ele, isso não significa, entretanto, que não se encontrem profissionais capacitados no Brasil. Na avaliação de Castaño, o mercado está muito ineficiente, uma vez que, sabe-se, há pessoas interessadas em mudar de posição nas empresas, as companhias estão precisando de pessoal, mas o vínculo entre elas é deficitário.
 
A Energy Talent consegue identificar os trabalhadores demandados. Agustín Castaño advertiu, porém, que o mercado nacional, em geral, ainda tenta trabalhar com o antigo método de referências e não com critérios profissionais.
 
“Não se pode continuar trabalhando nas referências dos amigos da velha guarda. É preciso profissionalizar o assunto e, aí, as coisas ocorrem”, disse. Com o aumento da exploração no pré-sal, o método de contratação por referências pode pôr em risco os projetos previstos para desenvolvimento, na parte técnica, analisou. Isso ocorre devido à existência de um gap, ou brecha entre os profissionais ‘seniores’, que estão perto de se aposentar, e o pessoal júnior, mais novo. “Há uma brecha de pessoas preparadas, em nível intermediário, entre 35 e 40 anos de idade. Nessa faixa etária, há problemas”.
 
A Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro) acredita que existe hoje uma demanda adicional por mão de obra no setor de petróleo e gás, criada a partir das novas descobertas do pré-sal, “que é reconhecida como um dos gargalos da indústria”.
 
Segundo o presidente da ABESPetro, Paulo César Martins, isso pode ser um obstáculo para os projetos futuros do pré-sal, levando-os a serem efetivados fora do prazo previsto, por falta de mão de obra qualificada. Muita mão de obra depende de formação que ocorre dentro das empresas, salientou. “E essa descoberta do pré-sal pegou todo mundo de surpresa”.
 
Ele avaliou que a Petrobras, como maior operadora do setor, vinha tendo um desenvolvimento crescente, “mas não tão rigoroso como a gente está vendo agora”. Isso dava condição de a mão de obra ser qualificada a tempo. Com a expansão do pré-sal, o que se vê é dificuldade na formação de mão de obra, apontou.
 
Martins acrescentou que outro fator agravante na área de recursos humanos é o requerimento de conteúdo local. “Como está havendo uma pressão grande do governo por conteúdo local e as operadoras têm que cumprir o requerimento mínimo, elas repassam isso, naturalmente, para as empresas prestadoras de serviços, as fornecedoras. Então, cada um faz o seu dever de casa, tentando sempre buscar alternativas nacionais, que antes eram buscadas lá fora, por meio de parcerias”. Isso ocorre não só em relação ao fornecimento de equipamentos, como de serviços, destacou.

Paulo César Martins disse ainda que o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), desenvolvido pela Petrobras, contribui para diminuir o problema da carência de mão de obra na área. “Mas ele não acaba abrangendo toda a cadeia de suprimento”. Ele assegurou que o programa está focado hoje em um espectro bem pequeno em relação à necessidade de mão de obra do segmento.

Edição: Graça Adjuto