Emerson Penha
Correspondente da EBC na África
Maputo, Moçambique - Dois países do Centro-Leste da África, o Maláui e a Tanzânia, estão enfrentando uma crise diplomática que pode ter consequências graves. O presidente da Comissão Parlamentar da Defesa, Segurança e Relações Exteriores da Tanzânia, Edward Lowassa, disse que o país está pronto para a guerra, se for necessário.
“O Maláui é nosso vizinho, não gostaria que os dois países se envolvessem em uma guerra. Mas, caso seja necessário, a Tanzânia não descarta essa hipótese”, disse Lowassa em entrevista à TBC1, canal público de rádio e TV do país.
A causa do desentendimento é a série de disputas fronteiriças sobre a linha divisória do Lago Niassa, um problema que existe desde os anos 1960, mas que, de tempos em tempos, torna a ganhar força. O Niassa, utilizado para o comércio e o transporte de pessoas na região, é dividido entre o Maláui, Moçambique e a Tanzânia, mas há controvérsias sobre onde começa o território de um país e onde termina o de outro.
A Tanzânia exige que o Maláui pare imediatamente com as pesquisas de gás natural e de petróleo no Niassa, o terceiro maior lago da África, mas o governo de lá rejeita a exigência, alegando que a prospecção está sendo feita dentro das fronteiras legais.
O ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação Internacional do Maláui, Emphraim Chiume, minimizou o caso. “Não há motivo para ansiedade ou alarme”, disse ele a jornalistas em Blantyre, segunda maior cidade e capital econômica do país. Jornais da Tanzânia chegaram a especular que tropas do país estariam sendo movimentadas para a região, mas o governo tanzaniano negou. A imprensa também diz que a multinacional brasileira Vale seria uma das interessadas nos resultados da prospecção feita no leito do lago Niassa.
Cerca de 30% das exportações e importações malauianas dependem do porto tanzaniano de Dar es Salaam. Em caso de uma guerra, o Maláui perderia essa rota comercial. O país não tem saída própria para o mar e depende da Tanzânia e de Moçambique para o intercâmbio de bens e de serviços com o mundo.
Representantes dos dois países voltam a se reunir no próximo dia 20 em Mzuzu, no Extremo Norte do Maláui, para tentar negociar uma solução diplomática em torno da linha divisória sobre o Lago Niassa. A União Africana, entidade que congrega os países do continente, diz esperar que o conflito seja resolvido por meio de canais diplomáticos, usando, se necessário, uma mediação internacional.
Edição: Andréa Quintiere