Catadores de Gramacho começam a receber indenização com o fim do aterro sanitário

31/05/2012 - 21h17

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A Caixa Econômica Federal começou a distribuir hoje (31) os cartões magnéticos que dão acesso ao saque de R$ 14.864,55 pagos a cada catador do Aterro Sanitário de Gramacho. O aterro será desativado no próximo domingo (3), depois de 35 anos de existência.

O dinheiro está sendo pago pela pela prefeitura do Rio, que será reembolsada pela empresa Novo Gramacho Energia Ambiental S.A, conforme previsto no contrato de concessão para exploração do gás metano produzido no aterro. O reembolso será feito em 15 parcelas anuais.

Gramacho é considerado o maior lixão da América Latina e se estende por uma área de 1,3 milhão de metros quadrados, à margem da Baía de Guanabara, e sempre apresentou um grande risco de desastre ambiental. Com o fechamento do aterro, o lixo produzido no Rio de Janeiro será todo levado para um centro de tratamento de resíduos no município vizinho de Seropédica.

Para receber o cartão magnético, cerca de 1,4 mil catadores aguardaram desde as primeiras horas da manhã em uma longa fila perto do Ciep Hermes Lima, no bairro Jardim Gramacho. Nitidamente ansiosos, eram liberados em pequenos grupos e, após terem seus nomes conferidos em uma lista, seguiam para dois caminhões-agência da Caixa, onde digitavam a senha para o cartão.

O gerente regional da Caixa, Thiago Blanc, disse que 70% dos catadores jamais haviam tido uma conta em banco. “O processo de inclusão bancária e a promoção da cidadania estão na missão da Caixa. É algo que nas grandes cidades se considera normal e até um adolescente já abre sua conta. Mas aqui temos casos de pessoas com até 80 anos que estão abrindo suas primeiras contas bancárias”, disse Blanc.

A catadora Gerusa Maria dos Santos, há 28 anos trabalhando em Gramacho, aguardava a vez para digitar a senha e ganhar seu cartão eletrônico. Uma novidade para ela, aos 62 anos de vida.

Apesar de avaliar positivamente a chance de receber o dinheiro, ela tem noção de que a quantia é pouca e vai logo acabar, deixando muitas pessoas sem recursos e nem trabalho. “Pouca gente tem consciência para usar bem o dinheiro. Os catadores não ganhavam mal aqui. A partir de agora, a vida deles vai mudar, porque não vão ter a mãe que tinham: o aterro. Acabou. Agora eles vão ter que sobreviver”, alertou Gerusa.

Para que isso não aconteça, alguns têm planos de investir imediatamente o dinheiro, como Epifânia Barbosa da Conceição, de 43 anos, que comemorava a primeira conta bancária. “Vou comprar minha casa, pela Caixa, lá em Realengo [bairro da zona oeste]”, disse.

Alba Valéria Pereira, de 36, pensa em montar um negócio com o dinheiro da indenização. “Eu pretendo abrir uma pensão, com a minha família, para vender comida. Uma irmã é cozinheira de forno e fogão e a outra é boleira. Se o dinheiro não for investido, ele some.”

Edição: Fábio Massalli