Luciana Lima e Mariana Jungmann
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – O relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), não descartou a possibilidade de reconvocar o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos para prestar novo depoimento à comissão. As informações que devem ser prestadas por Cachoeira, no entanto, na avaliação do relator, não são fundamentais para que a CPMI possa prosseguir investigando.
"Há uma disposição manifesta dele e de seus advogados, de que ele pode vir depois do dia 1º de julho à CPMI e colaborar com informações. Agora, não se pode esperar de um chefe de quadrilha, de um bandido, de um chefe de uma organização criminosa desse vulto, com essa força, que ele contribua com nossas investigações. Nós queremos investigar por todos os meios cabíveis. Claro que se ele vier e as informações dele forem suficientes podem ajudar", ponderou o deputado ao sair da reunião destinada a ouvir o empresário.
Cachoeira se recusou a responder as perguntas feitas pelos integrantes da CPMI. Ele alegou que estava respondendo a um inquérito na Justiça, com audiência prevista para o fim deste mês. A orientação dos advogados, nesse contexto, era a de que Cachoeira usasse o direito constitucional de permanecer calado. Por duas horas e meia, ele ficou calado, atitude que irritou os integrantes da CPMI, que decidiram suspender o depoimento.
Na avaliação do relator, a convocação de Cachoeira, nesta fase da CPMI, não foi um erro estratégico da comissão. “Não foi um erro. Nós temos uma determinação clara, nós temos instrumentos para garantir que a investigação prossiga", destacou Odair Cunha. "A expectativa é sempre, ao convidar, convocar alguém para estar na CPMI, é que as pessoas colaborem com a investigação. Agora, é claro que nós estamos em um Estado de Direito e nós temos que respeitar o direito dele de ficar calado", avaliou.
O advogado do empresário, Márcio Thomaz Bastos, disse, ao final da reunião, que Cachoeira poderia voltar à CPMI para prestar esclarecimentos. "Ele volta todas as vezes que for convocado".
No entanto, a estratégia da defesa é cumprir, antes disso, três etapas: a análise das gravações, o depoimento à Justiça e o julgamento do relaxamento da prisão de Cachoeira. "Primeiro, nós temos uma equipe estudando as dezenas de milhares de gravações e as dezenas de milhares de páginas escritas nesses processos. Nós olhamos um pouco da Operação Monte Carlo, não tudo. Falta olhar a [Operação] Vegas, falta olhar os tais encontros fortuitos", relatou o advogado.
"A segunda coisa, ele tem um julgamento marcado no dia 31 de maio e outro 1º de junho, na 11ª Vara Criminal Federal de Goiânia, e ele não vai falar antes disso. E a terceira coisa: nós temos um habeas corpus onde, por razões muito fortes, estamos pedindo a anulação das provas colhidas nessas operações porque elas não foram colhidas de acordo com a lei. Vamos esperar o pronunciamento da Justiça", disse Márcio Thomaz Bastos. Ele também descartou a possibilidade de seu cliente aceitar a oferta de "delação premiada", citada durante a reunião por alguns parlamentares. "Não foi cogitada essa possibilidade", declarou.
O presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que, caso os próximos depoentes utilizem o mesmo recurso utilizado hoje por Cachoeria, conversará com o relator para encontrar um plano alternativo e prosseguir com a investigação. "Vou conversar com o relator para imaginar que precisamos ter uma tática, um plano B ou um plano alternativo, se, na quinta-feira, os acusados se mantiverem também silentes usando o dispositivo constitucional e as garantias", disse o presidente. "Acho um pouco improdutivo, embora respeite as posições dos parlamentares.”
Edição: Lana Cristina