Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O economista Roberto Troster avalia que a decisão do governo de esticar de dois para três anos o prazo de incidência da alíquota de 6% do Imposto de Operações Financeira (IOF) nos empréstimos e captações de recursos de empresas e bancos no exterior pode servir, em um primeiro momento, de barreira à entrada excessiva de dólares. Mas não é suficiente para conter a valorização do real.
“É uma medida na direção certa, mas é pouca coisa”, advertiu. Para Troster, o país precisa investir mais no aumento da produtividade interna. A mesma opinião é defendida pelo economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, para quem é necessário estabelecer uma política industrial de longo prazo, com redução da carga tributária e dos custos de mão de obra e de financiamento.
“Controles de capital no mundo globalizado são medidas inócuas. É como tentar segurar a água com a mão. Sempre vai ter um espaço, uma brecha”, analisou Leite. Na opinião dele, o Brasil deveria aproveitar melhor “as vantagens comparativas” e explorar mais a riqueza da biodiversidade, investindo, por exemplo, nas área de fármacos naturais e energia alternativa.
O professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) Radamés Barone disse que a tendência é a valorização do dólar, como pretende o governo, mas considera que a medida anunciada hoje deve ser combinada com operações de swap cambial (compra e venda de dólares no mercado futuro) como forma de enxugar a liquidez da moeda estrangeira.
De acordo com a análise de Barone, com a ampliação da incidência do IOF sobre empréstimos externos, o governo tenta, pelo menos, evitar que a cotação da moeda norte-americana caia para menos de R$ 1,70. Ele observou que a valorização do real deixa a exportação mais vulnerável e, sem levar em consideração o alto nível de reservas cambiais, vê a possibilidade de o país voltar a ter déficit comercial e ser obrigado a recorrer, novamente, ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Um cenário que, para ele, “seria o pior dos mundos”.
Já na visão do economista Sidnei Moura Hehme, diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, “a valorização do real decorre, neste momento, muito mais das expectativas que se formam em torno da visão prospectiva de elevados ingressos de recursos externos no país, do que da realidade presente". Para ele, cabe ao governo "quebrar essa crescente expectativa fortalecendo os bloqueios a este suposto volume que será direcionado ao país, pois só a reversão das expectativas recolocará o preço da moeda americana em níveis compatíveis”. Ele se referiu à hipótese de o país receber recursos especulativos oriundos, principalmente, da Europa, inundada pelo Banco Central Europeu com dinheiro barato para reaquecer a economia em crise.
Edição: Vinicius Doria