Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Mais de 35% dos homens entrevistados em uma comunidade do centro do Rio de Janeiro disseram que já praticaram algum tipo de violência contra as prórios parceiras em algum momento da vida. Mas só 20% dos casos foram denunciados. A informação faz parte de um levantamento divulgado hoje (1º) pela organização não governamental (ONG) Promundo, que retrata o cenário de violência contra a mulher no Morro dos Prazeres, em Santa Tereza, região central do Rio de Janeiro.
A pesquisa revela que 65% dos homens entrevistados já presenciaram parentes, amigos ou conhecidos cometendo algum tipo de violência contra mulheres. Mais de 40% relataram que a violência testemunhada foi praticada contra a mãe do agressor.
De acordo com Márcio Segundo, coordenador de pesquisa e avaliação do Promundo, “os dados mostram que muitos dos homens que cometem violência contra a mulher foram testemunhas dos pais cometendo violência contra as mães". Para ele, "a base de tudo é o machismo e se a gente não fizer um trabalho para mudar a cultura do machismo, essa realidade não vai mudar muito”.
O coordenador da ONG considera que é preciso ir além da informação. “Existem pesquisas que mostram que mais de 90% dos homens conhecem a Lei Maria da Penha [que criminaliza violência doméstica], mas, mesmo conhecendo, continuam cometendo violência. A informação é importante, mas não é a única ferramenta. O lado punitivo pode fazer com que [os agressores] parem com isso, mas não tem sido suficiente.
Além de apresentar a pesquisa, a ONG lançou hoje (1º) um campeonato de futebol de salão na comunidade. O objetivo era atrair, principalmente, os homens, para tratar sobre o tema e anunciar uma campanha de prevenção da violência contra mulheres no Morro dos Prazeres. Desde julho, alguns homens da favela estão participando de debates sobre mudança de comportamento.
“Quando os homens participam, uma vez por semana, das oficinas, isso começa a fazer com que reflitam sobre seu posicionamento. Toda relação tem conflito, mas o conflito não pode ser resolvido por meio da violência. Uma das dicas que a gente dá é: sai de casa, vai dar uma caminhada. Isso é um dos exemplos que a gente oferece na nossa oficina”, explicou.
Márcio Segundo explicou que essa estratégia já foi implementada em duas comunidades carentes da zona sul do Rio de Janeiro. Segundo ele, no Morro Dona Marta, a parcela de homens que confessou praticar algum tipo de violência contra as parceiras caiu de 27% para 9%, considerando os levantamentos feitos antes e depois do período de oficinas, que durou um ano.
Edição: Vinicius Doria