Tesouro reduz oferta de títulos públicos por causa de turbulências no mercado financeiro

22/09/2011 - 16h40

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – As turbulências no mercado financeiro desde o fim de julho fizeram o Tesouro Nacional reduzir a oferta de títulos públicos, confirmou há pouco o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido. Segundo ele, esse foi um dos fatores que fizeram o governo emitir R$ 16,34 bilhões a mais do que resgatou em agosto, a menor emissão líquida em 2011.

Apesar de o Tesouro ter vendido menos títulos, o coordenador assegurou que a demanda continuou elevada. De acordo com ele, a equipe econômica reduziu a oferta porque os investidores estavam pedindo taxas de juros mais altas por causa da crise financeira internacional. “Embora a demanda tenha continuado alta, o Tesouro optou por vender lotes menores para não sancionar [aceitar] a taxa de juros pedida pelo mercado”, explicou Garrido.

Se o Tesouro tivesse aceitado os juros dos investidores, disse o coordenador, o custo de administração da dívida pública subiria. A resistência do Tesouro em aceitar as taxas maiores, aliadas à redução da taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, fizeram os juros dos principais títulos cair desde o início do mês passado.

Os juros de títulos prefixados (com juros definidos no momento da emissão) com vencimento em 2014, informou Garrido, estavam em 12,5% ao ano na primeira semana de agosto. A taxa caiu para 11,63% no fim do mês passado e atingiram 11,6% no leilão de hoje (22). Para os mesmos papéis, com vencimento em 2015, os juros estavam em 12,54% ao ano no início de agosto, caíram para 11,77% na última semana do mês passado e atingiram 12% hoje.

“Em setembro, a situação de volatilidade continua, mas as taxas não apresentaram, até agora, comportamento que preocupa o Tesouro Nacional. Tanto que os juros ainda estão mais baixos que no começo de agosto, quando as turbulências voltaram ao mercado financeiro”, disse Garrido.

Para o coordenador, outro sinal de que a confiança na dívida pública brasileira não foi afetada é que o Tesouro não recomprou nenhum título prefixado de prazos mais longos, apesar de ter realizado vários leilões de recompra nos últimos meses. “Isso mostra que os investidores continuam confortáveis com a dívida pública brasileira e confiam na solidez fiscal e no crescimento econômico brasileiro”, declarou.

A participação de estrangeiros na dívida interna brasileira, indicador que mede a confiança dos investidores internacionais no país, aumentou de 11,64% em julho para 11,75% em agosto. Conforme Garrido, a maior parte desse aumento decorre de um efeito estatístico provocado pela incorporação de juros no estoque da dívida, Apesar disso, ele admitiu que houve um “pequeno movimento de compra” de aplicadores estrangeiros no mês passado.

Caso a crise se agrave ainda mais e o Tesouro não consiga vender títulos, Garrido disse que o governo tem reservas para cobrir os vencimentos da Dívida Pública Federal (DPF) nos próximos seis meses. Ele, no entanto, não divulgou o valor do colchão da dívida, como são chamados esses recursos.

Por meio da dívida pública, o governo pega emprestado recursos dos investidores para honrar compromissos. Em troca, se compromete a devolver os recursos com alguma correção, que pode ser definida com antecedência, no caso dos títulos prefixados, ou seguir a variação da taxa Selic, da inflação ou do câmbio. Juros mais baixos indicam maior confiança em que o Tesouro devolverá o dinheiro aos investidores.
 

Edição: Rivadavia Severo