Juventude cubana vive entre dois mundos: o da revolução e o da expectativa

01/08/2011 - 9h06

Renata Giraldi*
Repórter da Agência Brasil

Havana  - Jovens vestidos com roupas moderníssimas, brilho nos jeans, tênis de último tipo e unhas cuidadosamente feitas misturam-se a cartazes com os rostos de Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos dos tempos em que lideraram a Revolução Cubana, em 1959. A juventude de Cuba do século 21 parece guiada pela expectativa de mudança, mas ainda é rodeada pelas incertezas que cercam essas perspectivas.

Formado em história com especialização em assuntos de Cuba, Reynaldo Castillos se viu obrigado a trabalhar em um hotel da capital. Segundo ele, recebe mais vendendo cartões-postais e falando sobre a história de Cuba para turistas do que em sala de aula. “Estou feliz. Está tudo bem”, disse, desconversando sobre eventuais angústias ou dilemas.

Oficialmente, o governo diz que 16% dos 12 milhões de habitantes têm acesso à internet. Mas a prática mostra que a realidade é outra: nos lugares públicos onde há computadores, o acesso é limitado a duas horas por dia, sendo que há vários sites proibidos, como o Facebook e o Twitter, além de servidores.

“O bloqueio na internet é imposto pelos Estados Unidos, como o acesso ao Twitter e até ao Facebook”, disse a jornalista Rosa Miriam Elizarde, editora do Cubadebate, site oficial do governo, e estudiosa dos noticiários online. De acordo com ela, os sites bloqueados pelo governo são aqueles que têm conteúdo “contrarrevolucionário” e com intenção de “contaminar o sistema”.

O acesso aos meios de comunicação é uma realidade difícil para os cubanos. A exceção fica com os aparelhos de televisão – em todas as casas há pelo menos um. Há emissoras que transmitem programas em chinês, por causa de uma parceria entre Cuba e China, além da ACN que é exclusivamente de notícias e outras de variedades.

As novelas brasileiras dubladas para o espanhol são uma febre em Cuba. Atualmente estão no ar Sinhá Moça – que retrata o período da escravidão no Brasil – e  Paraíso – que fala do fanatismo religioso. As novelas influenciam, inclusive, na escolha de nomes dos bebês. Recentemente surgiu uma geração de Tiago por causa dos episódios transmitidos pela televisão.

Os cubanos ainda convivem com as dificuldades de usar o telefone no país. A opção para maior parte das pessoas são os orelhões, espalhados nos mais diferentes locais das cidades. Alguns cubanos têm telefones celulares. De acordo com relatos, ter um aparelho celular é indicação de status social.
    
Independentemente dos avanços da tecnologia, os jovens cubanos ainda se apegam às antigas tradições e não escondem suas crenças, como na la santería - religião de origem africana que se assemelha ao candomblé, cultuando os orixás, homenageando os antepassados e com ritos de incorporação.

Segundo os jovens, a abertura política permitiu que todos se sintam mais à vontade para professar sua fé. Em Cuba, é comum que nas casas, a exemplo do Brasil, tenham quadros com imagens católicas e de orixás. Mas as dificuldades econômicas afetam também os cultos religiosos.

 “É muitíssimo caro se preparar para a Santería. É necessário comprar várias coisas que nos mandam e por causa do momento, de restrições, que vivemos no país, isso fica mais caro ainda. Então espero um momento melhor”, disse a garçonete María Peña, referindo-se ao adiamento de seu ingresso como filha de santo. “Agora tenho um bebê, então tenho mais gastos.”


 

*A repórter viajou a Cuba a convite do Instituto Internacional de Jornalismo José Martí, em Hvana   // Edição: Lílian Beraldo