Vinicius Konchinski
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Colegas e parentes de Luiz Eduardo Merlino lembraram hoje (30), na capital paulista, os 40 anos de seu assassinato. Durante um debate, que discutiu o legado de Merlino para a política brasileira, os que homenagearam o militante de esquerda também pediram a condenação do acusado por sua morte, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Merlino foi jornalista e membro do Partido Operário Comunista (POC) e da Quarta Internacional. Ele foi preso em 15 de julho de 1971 e levado para a sede do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no centro de São Paulo. Naquela época, o DOI-Codi era comandado por Ustra.
Preso no DOI-Codi, Merlino foi torturado e morreu. A família dele recebeu a notícia da morte no dia 19 de julho. Mais de 40 anos depois, eles reivindicam em um processo judicial que o coronel Ustra seja declarado assassino de Merlino.
“A Lei de Anistia não permite que ele seja acusado criminalmente. Então, nós queremos que Ustra seja, pelo menos, oficialmente reconhecido como um assassino”, afirmou Angela Mendes de Almeida, historiadora e ex-companheira de Merlino.
Na última quarta-feira (27), seis testemunhas de acusação contra Ustra foram ouvidas pela juíza Claudia Lima, da 20ª Vara Cível de São Paulo. Todas ratificaram que Ustra agiu para que Merlino morresse.
Eles disseram que a tortura pela qual o militante foi submetido causou ferimentos graves e gangrena nas pernas. Disseram que, mesmo após a tortura, ele ainda poderia ter sobrevivido caso tivesse as pernas amputadas. Entretanto, segundo eles, Ustra determinou que nada fosse feito já visando à morte de Merlino.
Testemunhas de defesa de Ustra ainda serão ouvidas pela Justiça. Só depois disso, a decisão sobre a responsabilidade do coronel pela morte será anunciada.
Para o militante da Quarta Internacional João Machado, contudo, o evento de hoje pressiona a Justiça para que a sentença saia o quanto antes. “É um sinal de pressão”, afirmou Machado. “Agora, vamos ver o que a Justiça dirá. Nem sempre a Justiça é justa.”
Na quarta-feira, após os depoimentos de acusação, o advogado de Ustra, Paulo Alves Esteves, reiterou que seu cliente afirma jamais ter participado de qualquer ato de agressão ou de violência contra qualquer pessoa. Segundo o advogado, Ustra disse que “nunca determinou nada contra ninguém”.
Edição: Talita Cavalcante