Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Na avaliação do cientista político Eurico de Lima Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), “mais uma vez, a República entre nós funciona. Ou seja, existe da parte do governo transparência e licitude nos seus atos públicos, mesmo que não sejam de caráter legal, mas políticos”. Para ele, a substituição do ministro mais influente do governo reafirmou a liderança política da presidenta Dilma Rousseff. “De maneira muito mais rápida e pronta que o (ex-presidente) Luiz Inácio Lula da Silva, ela, em vez de continuar querendo blindar [o ministro] e postergar a decisão, procurou uma decisão mais rápida para a questão”.
O cientista político avaliou que, embora aparentemente não tenha cometido nenhum ato ilegal, Palocci levantou uma discussão relevante: se, como político, ele pode usufruir do cargo ou das informações que tem, ou teve, para atender a objetivos próprios ou privados. “Houve uma grande reação da sociedade e dos partidos políticos, inclusive dos seus aliados, que levou a essa posição”.
Sobre a escolha da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, Figueiredo acredita que prevaleceu a posição da presidenta Dilma. “Ela consegue, com isso, indicar uma senadora com quem tem uma relação de proximidade. Eu acredito que, para o país, foi muito bom, porque a questão Palocci estava trazendo instabilidade e expectativas não resolvidas”.
Para o professor do Instituto de Finanças da Universidade Federal Fluminense (UFF) Cláudio Considera, que foi secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda de 1999 a 2002, a saída do ministro Antonio Palocci tem implicações “mais políticas do que econômicas”. Lembrou que, quando Palocci deixou o governo Lula, em 2006, por causa do escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, “teve maior poder a turma desenvolvimentista, o país cresceu, mas trouxe de volta a questão da inflação, que nós não ouvíamos falar há muito tempo”.
Ele avaliou que a crise aberta pelas notícias de enriquecimento de Palocci derivou de uma luta interna do próprio Partido dos Trabalhadores (PT) relacionada à condução da política econômica. “O país está com uma série de problemas que têm a ver com a inflação. Acho que tem problemas políticos associados a isso”.
Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Reynaldo Gonçalves, a saída do ministro Antonio Palocci não terá nenhum impacto sobre a economia brasileira. “O Palocci funcionava como uma espécie de eminência parda no governo”. Para Gonçalves, o ex-ministro era uma das peças principais do mecanismos de controle do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o governo Dilma Rousseff. “Quem deve estar preocupado agora é o Lula, que vai ter que arranjar um substituto”.
Edição: Vinicius Doria