Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Ministério da Educação (MEC) negou hoje (1º), por meio do Twitter, que vá encerrar no fim do ano as aulas de duas instituições federais especializadas para deficientes visuais e auditivos no Rio de Janeiro. Na mensagem, divulgada de manhã, o MEC garante que não há nenhuma intenção de fechar os institutos Nacional de Educação de Surdos (Ines), em Laranjeiras, e Benjamin Constant (IBC), na Urca, ambos na zona sul. A nota informa também que o ministro Fernando Haddad se reunirá com a direção dos dois institutos para esclarecer o mal-entendido.
A polêmica começou em meados de março, depois que representantes do IBC e do Ines foram informados pela diretora de Políticas de Educação Especial, Martinha Clarete, que os alunos do ensino básico (educação infantil e ensino fundamental) seriam transferidos para as redes estadual e municipal no ano que vem, seguindo a política de inclusão. Para esclarecer o assunto, o ministro marcou uma reunião, em Brasília, na próxima terça-feira (5), às 11h30, com representantes dos dois institutos.
O Ines recebe cerca de 500 alunos, do maternal até o 3º ano do ensino médio. O Instituto Benjamin Constant tem mais de 300 alunos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental. A chefe de gabinete do Benjamin Constant, Maria da Glória Souza de Almeida, elogiou a iniciativa de Haddad. “Nunca vi intransigência dar bons frutos, nem radicalismo edificar nada. Nossa missão é contribuir para a ascensão intelectual do deficiente visual e para sua inclusão na sociedade. Nossa justificativa para seguir com as aulas é pedagógica, não política”.
De acordo com Glória de Almeida, as instituições especializadas não segregam e sim oferecem ensino de qualidade para aqueles que têm necessidades especiais. "É muito complicado tratar de crianças cegas numa sala inchada com 30, 40 alunos, em que um professor não sabe braille".
Mãe de um jovem com deficiência auditiva, Maria Inês dos Santos disse que o filho estudava em escola pública e só aprendeu a ler e escrever depois que foi para uma escola especial. “Os professores de escolas públicas não estão preparados para receber esse tipo de aluno. A grande maioria não sabe braille nem libras e não tem treinamento para lidar com essas crianças. Muitos deixam esses meninos num canto por achar que, sendo surdos ou cegos, eles não vão aprender nada mesmo, como já ouvi de um professor”.
Maria Inês discorda que esse tipo de escola seja segregacionista. “Meu filho circula livremente entre os dois mundos, dos ouvintes e dos surdos. Hoje ele está com 26 anos, tem um ótimo emprego e se relaciona bem com todos. Defendo uma escola pública de qualidade para todos e também as especializadas. Uma coisa não exclui a outra”.
A prefeitura do Rio iniciou a contratação de intérpretes de braille e de libra nas escolas para atender a esse público que, segundo a Secretaria Municipal de Educação, é de 4.508 alunos, incluídos em classes regulares – ao todo o município atende a quase 10 mil alunos portadores de necessidades especiais.
No entanto, Maria Inês acredita que o próprio professor deveria saber as línguas em vez de contar com intérpretes. “Na escola aqui perto de casa, por exemplo, há apenas um intérprete na parte da tarde para atender todas as turmas. Um aluno cego ou surdo que estude na parte da manhã não tem esse tipo de auxílio”.
Edição: Graça Adjuto