Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Vizinha de bairros nobres da cidade, como Freguesia e Barra da Tijuca, na zona oeste, a favela Cidade de Deus deve receber a visita, neste domingo (20), do presidente norte-americano, Barack Obama.
Mesmo sem ter recebido nenhum comunicado oficial do Poder Público, o presidente da Associação de Moradores União Comunitária, uma das entidades que representa a população local, José Neves, contou que percebeu uma movimentação diferente no bairro nos últimos dias.
“Todo mundo aqui comenta que ele vem, vai caminhar pelas ruas e conhecer a comunidade. Muita gente está se preparando para acompanhar e tem gente pintando coisas, tapando buracos e arrumando tudo”, disse.
Segundo Neves, além da alegria que é receber uma autoridade internacional, a visita de Obama vai representar a oportunidade de mostrar uma Cidade de Deus diferente da que foi apresentada ao mundo por meio do filme homônimo, dirigido pelo cineasta Fernando Meirelles, lançado em 2002. Apesar do sucesso, com a conquista de inúmeros prêmios e indicações, muitos moradores se queixam que a produção reforçou mundialmente o estigma de comunidade violenta e perigosa, favorecendo uma onda de preconceito e discriminação.
“É uma alegria, porque a comunidade vai estar nos jornais por outro motivo que não a violência, a criminalidade”, acrescentou. O presidente da associação destacou que, desde a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) pelo governo do estado em 2009, a rotina dos moradores mudou.
“Aquela coisa ruim acabou. Vivemos outro regime e a comunidade está tranquila”, afirmou, apesar de reconhecer que ainda há criminosos vivendo no local.
Com uma população estimada em cerca de 40 mil pessoas, segundo informações da prefeitura do Rio, a Cidade de Deus começou a ser construída na década de 60, para servir de conjunto habitacional principalmente para os moradores de favelas removidas da zona sul da cidade, no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Naquela época, o então estado da Guanabara era governado por Carlos Lacerda. As obras do conjunto, financiadas pelo extinto Banco Nacional da Habitação, no entanto, não foram concluídas durante sua gestão, o que só ocorreu no governo de seu sucessor, Negrão de Lima.
Os primeiros moradores da Cidade de Deus eram provenientes de mais de 60 favelas, a maioria deles da Praia do Pinto, do Parque da Gávea, da Ilha das Dragas, do Parque do Leblon, da Catacumba e Rocinha. O crescimento da região ocorreu de forma desordenada, num processo de favelização que passou a englobar outras comunidades, como a do Muquiço, a Santa Efigênia, a Travessa Efraim, a Rocinha 2 e o Jardim do Amanhã 2. Atualmente, no espaço que era destinado exclusivamente a uma área residencial, pequenos centros comerciais se formaram, numa alternativa de sobrevivência para pessoas que se viram morando em local distante do centro da cidade.
A partir de 1997, com a inauguração, pela prefeitura, da Linha Amarela, via expressa que liga a Barra da Tijuca ao centro da cidade, a Cidade de Deus foi dividida em duas partes interligadas por passarelas.
Ao mesmo tempo em que o tráfico ganhava espaço no local, também surgiam no bairro várias associações de moradores, agremiações esportivas, grupos culturais, organizações religiosas, igrejas atuantes e movimento negro. Entre as iniciativas de maior relevância está a Central Única de Favelas (Cufa), com base na comunidade. A organização, fundada pelo rapper MV Bill, é uma das principais referências nacionais de mobilização social com jovens de favelas.
Edição: Graça Adjuto