Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, espera que até amanhã (18) o Japão viva um momento decisivo no processo desencadeado na área nuclear pelo terremoto, seguido de tsunami, que abalou o país na última sexta-feira (11). “Ou você consegue o resfriamento integral de todos, ou de parte, dos reatores, ou nós caminhamos para a fusão do núcleo, com riscos de uma liberação muito mais agressiva de radioatividade no meio ambiente”. Até o momento, lembrou, o nível de radioatividade na Usina Nuclear de Fukushima Daiichi é controlado.
Mercadante reiterou hoje (17) que a preocupação do governo é muito grande em relação ao processo no Japão. Ele participou de solenidade de assinatura de acordo de cooperação entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para o desenvolvimento de pesquisas em tecnologias inovadoras nos setores sucroenergético e sucroquímico, no Rio.
O ministro destacou que o Japão possui 35% de sua energia oriundas de usinas nucleares. Com uma dívida pública de mais de 200% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 40% no Brasil, o Japão vai ter um “desafio imenso” de superar a devastação provocada pelo terremoto e pelo tsunami que destruíram parques produtivos e sua infraestrutura, disse.
No caso dos reatores, Mercadante observou que os equipamentos resistiram aos sinistros naturais. “As usinas ficaram preservadas diante de um quadro de extremo estresse”. A perda de combustível teria desencadeado o processo de radiação. O ministro ponderou, entretanto, que o diagnóstico mais aprofundado da crise vai exigir protocolos mais seguros e rigorosos no uso da energia nuclear. “O que é importante é nós não tomarmos medidas sem uma análise aprofundada, rigorosa, cuidadosa, de todas as implicações”.
Segundo Mercadante, existem atualmente 440 usinas nucleares em funcionamento no mundo há mais de 60 anos, e mais de 65 em construção. “Então, a discussão internacional tem que ser feita com muito rigor”. Ele afirmou que as usinas nucleares produzem uma fonte limpa de energia, que ajuda a reduzir as emissões de gás carbônico e a mitigar os efeitos do aquecimento global. Ao mesmo tempo, a catástrofe no Japão mostra que essa fonte tem um risco “que é, absolutamente dramático quando o acidente ocorre”.
O governo brasileiro está acompanhando as discussões. Apesar de o país depender pouco da energia nuclear, o ministro prometeu que o Brasil vai aplicar imediatamente todos protocolos internacionais, “tanto para as usinas que já temos [Angra 1 e 2 e a Usina Nuclear Angra 3 em construção] como, eventualmente, a continuidade desse programa”. Ele não tem dúvidas de que os protocolos serão mais rigorosos que os vigentes hoje. “De qualquer forma, nós tomaremos todas as medidas para assegurar o mais elevado padrão de segurança no uso da energia nuclear no Brasil”.
Mercadante ressaltou que a presidenta Dilma Rousseff foi ministra de Minas e Energia e conhece o setor em profundidade. Na opinião do ministro, Ela saberá tomar as decisões corretas a partir de um “amplo debate técnico-científico-democrático que nós vamos ter”.
Ele deixou claro que não há riscos de ocorrência de terremotos ou tsunamis no Brasil. Ainda assim, os projetos das usinas nucleares levam em conta cenários de um terremoto até 6,5 graus na escala Richter e ondas até 7 metros de altura em maremotos. “Portanto, uma margem ampla de segurança”. Os riscos ambientais no Brasil são inundações e desmoronamentos, mas as usinas já demonstraram estar bem preparadas para isso, disse Mercadante.
Edição: Aécio Amado