Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Desde a abolição da escravidão em 1888, a última década foi a que assistiu à maior diminuição da desigualdade entre brancos e negros (pretos e pardos). Conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2001 e 2007 a diferença da renda familiar per capita dos brancos em relação aos negros diminuiu em 25%. Mesmo assim, a população branca vive com o dobro da renda (2,06 vezes) da população negra.
De acordo com o Ipea, ultrapassar essa distância pode levar muito tempo. O cálculo é que só em 2029 se chegaria a um equilíbrio entre brancos e negros. “O ritmo da diminuição é aquém do desejado por quem quer uma sociedade mais justa”, diz Tatiana Dias da Silva, técnica de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea. A mesma opinião tem Ana Lúcia Sabóia, chefe da Divisão de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Fazer projeção é difícil, mas o fato é que o ritmo é muito lento”, confirma.
A razão da diminuição, ainda que lenta, está nas políticas distributivas em favor dos mais pobres, como o Programa Bolsa Família e a elevação do ganho real do salário mínimo. Os negros são a maioria dos aposentados que recebem o piso da Previdência Social. Os efeitos distributivos desses mecanismos podem, no entanto, estar se esgotando com a aproximação da universalização do Bolsa Família entreos mais pobres do cadastro único do Ministério do Desenvolvimento Social e a limitação do reajuste do salário mínimo, alerta Tatiana da Silva.
A técnica explica que como a maior parte da renda é composta por remuneração é preciso ver o mercado de trabalho, que ainda discrimina os negros desde a entrada, pois esses em regra começam a trabalhar mais cedo e com menor escolaridade que os brancos. Nesse sentido, as políticas afirmativas no mercado de trabalho tornam-se “mais importantes” para diminuir a desigualdade, avalia Tatiana da Silva que dá como exemplo o protocolo de diversidade assinado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e o Ministério da Educação (MEC) incentivando a contratação de negros oriundos de universidades com programa de cotas raciais.
A desigualdade de renda distribui brancos e negros de forma diferente nas classes sociais. Segundo dados da Pesquisa de Amostra Domiciliar (Pnad 2009), compilados pelo instituto Data Popular, somente 1% dos negros está na classe A e 3% na classe B, enquanto 4% dos brancos estão no primeiro estrato e 10% estão no segundo. Brancos e negros têm quase o mesmo percentual na classe C, em torno de 34%; mas a situação se reverte nas classes de menor renda. Metade dos negros brasileiros é da classe D e 12% são da classe E; enquanto entre os brancos, 35% são da classe D; e 5%, da classe E.
Essa desigualdade afeta o dinamismo da economia, aponta Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. Para ele a discriminação racial “é improcedente do ponto de vista ético, moral e econômico”. Em sua opinião, “é uma questão de inteligência” aumentar a renda dos negros. O instituto calcula que os negros formem um mercado que movimenta R$ 554 bilhões. Esse valor poderia ser de mais de R$ 720 se a distribuição de renda fosse mais equilibrada, estima Meirelles.
Edição: Rivadavia Severo