Foro de São Paulo completa 20 anos reunindo a América Latina e o Caribe em Buenos Aires

18/08/2010 - 21h13

Luiz Antônio Alves
Correspondente da Agência Brasil na Argentina

Buenos Aires - Criado em 1990, quando faltavam poucos meses para o fim da União Soviética e em meio à dissolução do bloco socialista europeu, o Foro de São Paulo comemora 20 anos realizando sua 16ª reunião na capital argentina, buscando ampliar o conceito que resultou em sua criação pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e por outras organizações políticas da América Latina e do Caribe. De acordo com Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT e secretário executivo do Foro, a organização quer consolidar a participação dos partidos de esquerda, progressistas e populares nos governos da região. Segundo Pomar, esses partidos já estão presentes em número expressivo de governos latino-americanos e caribenhos.

Outro objetivo do Foro de São Paulo, na reunião em Buenos Aires, é "aprofundar o processo de integração continental. Temos um processo bastante avançado mas ele pode avançar muito mais no âmbito cultural, econômico, politico e de defesa. Achamos que tudo que acontece em um país depende da sua integração, e vice-versa". O secretário executivo do foro acrescenta um terceiro objetivo da reunião: "evitar que tenha sucesso o contra-ataque da direita, que faz o que pode e o que não pode para retomar espaço na América Latina".

Os integrantes do Foro de São Paulo acreditam, segundo documento que serve de base para as discussões que acontecem em Buenos Aires, que a integração latino-americana e caribenha pode ser demonstrada por meio de diferentes instituições, como é o caso da Aliança Bolivariana para os Povos da América Latina e o Caribe (Alba) e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). O documento também afirma que a própria Organização dos Estados Americanos (OEA) tem passado por mudanças substanciais em suas relações com os Estados Unidos e com os países latino-americanos. Um exemplo dessas mudanças, segundo o documento, é a recusa sucessiva de três candidatos apresentados pelo governo norte-americano para ocupar a secretaria-geral do órgão. O documento afirma que, até agora, os Estados Unidos "manejavam à vontade" este cargo.

Sem fazer referência a nomes, o documento também diz que "a nova realidade da América Latina pode ser vista com maior clareza quando comparada com o panorama que prevalecia em décadas anteriores, marcadas por uma sucessão de ditaduras militares. A caracterização social dos governos mudou, com os casos paradigmáticos de um operário metalúrgico ou de um líder indígena que chegaram à Presidência de seus países por meio de milhões de votos de seus compatriotas". Para os dirigentes do Foro de São Paulo, a política de esquerda de alguns governos latino-americanos gerou benefícios concretos para a população, particularmente aos setores mais excluídos". Além disso, esses governos ampliaram e aprofundaram a democracia, abrindo espaço para novas formas participativas e diretas da população.
 
O documento-base do Foro de São Paulo critica "o cataclismo financeiro iniciado nos Estados Unidos que se propagou rapidamente pelo resto do mundo", afirmando que esta não é apenas uma crise financeira, mas do próprio sistema capitalista. "A recuperação é incerta e há riscos de que o mundo caia novamente numa recessão global", diz o documento, "tendo como custo a pobreza e o desemprego. A falta de oportunidades de trabalho continuará elevada no mundo por vários anos".

Por outro lado, o foro destaca que a crise não foi tão aguda, pelo menos em algumas áreas da América Latina, porque em vários países da região foram aplicadas políticas que compensaram, em grande parte, o impacto recessivo. "Estas políticas", segundo o documento, "foram possíveis porque os países acumularam importantes reservas monetárias que puderam ser usadas para compensar a queda das exportações e a saída de capitais".

As diversas delegações de países latino-americanos e caribenhos que participam da 16ª Reunião do Foro de São Paulo estão discutindo a fundação de escolas e centros de capacitação, politicas de defesa regional e continental, o meio ambiente e as mudanças climáticas, a democratização dos meios de comunicação, a soberania nacional e a descolonização, entre outros temas. O encontro em Buenos Aires termina na próxima sexta-feira (20), com a divulgação das resoluções finais.

 

Edição: Aécio Amado