Três dias após terremoto, haitianos estão sem comida e sem água

15/01/2010 - 9h34

Luciana Lima
Enviada Especial
Porto Príncipe (Haiti) - Depois de três dias do terremoto que destruiu a capital do Haiti, a ajuda humanitária começou a chegar a PortoPríncipe. A população, entretanto, ainda vaga pelas ruas em busca de comida eágua. Há centenas de corpos acumulados pelas calçadas e, à medida que o tempo passa, vozes de sobreviventes sob escombros começam a calar. Aglomeraçõesse formam nos lugares com a possibilidade de encontrar algo para beber.Diante da quase inexistência dos serviços públicos, da aindainsuficiente ajuda de outros países e da demora em conseguir alimento, as autoridades temem que as pessoas se revoltem e iniciem uma onda de violência. Essapreocupação foi expressada ontem (14) pelo próprio presidente haitiano, ReneéPréval, em reunião com o ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, quecoordenou a missão que veio ao país identificar as necessidades mais urgentesde ajuda. Entre os pontos acertados com a missão brasileira,  está o envio de equipamentos e munição não letal para conter amultidão em caso de revolta. O presidente haitiano também secomprometeu a indicar um local para que o Brasil possa iniciar otrabalho de sepultamento dos corpos, muitos ainda sob escombros.Passadas mais de 48 horas, os corpos já começam a entrar emdecomposição, há muita poeira e moscas e o risco de epidemias é iminente.Pela cidade, nas áreas descampadas e nas praças, aspessoas se concentram com medo de um novo terremoto. Tremores depequena intensidade são sentidos a todo momento o que aumenta asensação de medo. Hoje, o governo brasileiro começa a montar ohospital de campanha em uma área próxima à Base Charlie com capacidadepara atender de 300 a 400 pessoas por dia além de 20 leitos parapessoas em estado grave. O governo brasileiro também acertou oenvio de barracas para que as pessoas possam se abrigar. Muitasperderam as casas, outras não, mas não acham seguro voltar. Preferemimprovisar tendas, utilizando principalmente lençóis. O presidente RenéPréval acertou ontem com o ministro da Defesa a dispensa do passaportepara os 60 profissionais de saúde que vão trabalhar no hospital. Desde a última terça-feira (12),quando ocorreu o terremoto que atingiu sete graus de magnitude, oserviço de comunicação não funciona. Há desabastecimento de gasolina já que um dos reservatórios da cidade foi atingido peloterremoto. O governo da República Dominicana, país vizinhoao Haiti, se comprometeu a ajudar com o envio de combustível. Oaeroporto de Porto Príncipe permanece fechado.