Soro produzido no Rio garante recuperação mais rápida em casos de picada de aranha

15/01/2010 - 14h01

Thaís Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O tempo de internação de pacientes envenenados por picadas daaranha do gênero Latrodectus, conhecida como viúva-negra, pode serreduzido em até um terço quando se aplica o soro específico,chamado de antilatrodéctico. A constatação faz parte de umapesquisa divulgada pela Secretaria de Saúde da Bahia, um dos estadoscom maior incidência de aranhas desse tipo no país. Oestudo tomou como base os atendimentos registrados na secretaria de2000 a 2007. Segundo o diretor em exercício do Centro de InformaçõesAntiveneno da Bahia (Ciave), Daniel Rebouças, no período analisado,foram atendidos 825 casos de picada de aranha no estado, entre osquais pouco mais de 100 eram de viúva-negra. Rebouças disse que,embora a incidência não seja tão grande, os sintomas são muitoseveros.“As picadas de viúva-negra representaram cerca de15% do total de picadas de aranha na Bahia, mas, para os pacientesenvenenados, o sofrimento é muito grande e qualquer avanço notratamento é fundamental.” O veneno ataca o sistema nervosocentral, provoca dores musculares intensas, náuseas, mal-estargeneralizado, dor de cabeça e alterações cardiorrespitarórias quepodem simular um infarto do miocárdio, explicou. Rebouças ressaltou que, por isso, o soro específico é muitoimportante, pois, como comprovou o estudo, ele é capaz de reduzir aduração dos sintomas de 32 horas, o que exigiria uma internaçãode três dias, para até quatro horas, com permanência hospitalar deapenas um dia. Em todo o Brasil, há três laboratórios quefornecem ao Ministério da Saúde soro contra animais peçonhentos,mas apenas um, o Instituto Vital Brasil, ligado à Secretaria deSaúde do Rio de Janeiro, produz a substância específica contra oenvenenamento por picada de viúva-negra. O Vital Brasil fabrica osoro desde 2001, embora não saiba informar qual o volume produzidoanualmente.O biólogo Cláudio Maurício, do Vital Brasil,disse que o uso imediato do soro específico, além de acelerar oprocesso de recuperação, reduz os gastos do Sistema Único de Saúde(SUS), já que o paciente fica menos tempo na unidade hospitalar. “Édifícil calcular a economia, mas com certeza reduzem-sedrasticamente os gastos governamentais e previne-se a letalidade.”O biólogo ressaltou, porém, que ainda não há dados precisos nopaís sobre as mortes causadas pelo veneno dessa aranha.Segundoele, sabe-se que existem essas mortes, mas os casos ainda sãosubnotificados. porque se trata de um animal muito pequeno, “menordo que uma moeda de R$ 1”. Então, acrescentou, as pessoas custam aatribuir à viúva-negra um quadro tão severo.Ele afirmouque a viúva-negra aparece com mais frequência na região litorâneado Nordeste. No Rio de Janeiro, há relatos principalmente nascidades da Região dos Lagos. As aranhas costumam ser encontradas embarrancos à beira de estradas, sob cascas de coco ou folhas secas elatas vazias. Nas restingas do litoral, são abundantes na vegetaçãoconhecida como “salsa-da-praia”. O Ministério da Saúdeinformou que não há levantamentos apontando redução dos gastospúblicos com a diminuição do tempo de internação nos casos deenvenenamento, porque essa estimativa envolve diversas variáveis,como o tipo de leito e os medicamentos utilizados, entre outras.Além da viúva-negra, há registros de mais três tipos dearanhas peçonhentas no país: a armadeira e a da banana, ou macaca,encontrada em várias regiões do país, com predomínio no Sudeste eno Sul, e a marrom, muito comum no Sul, principalmente no Paraná. Emtodos os casos, quando houver envenenamento, o local da picada deveser lavado com água e sabão e vítima levada imediatamente aoserviço de saúde mais próximo para que possa receber tratamento.