Brasil acompanhou a distância os efeitos da queda do Muro de Berlim

07/11/2009 - 15h07

Renata Giraldi e Lísia Gusmão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Em novembro de 1989, o Brasil vivia momentos de pós-abertura política com as eleições presidenciais e de inflação explosiva. Segundo o professor Estevão Rezende Martins, da Universidade de Brasília (UnB), isso fazia com que as questões de política externa fossem tratadas com distanciamento. Ele ressalta que os efeitos da queda do Muro de Berlim, inicialmente, foram pouco percebidos no país.Segundo ele, alguns sinais de que o cenário internacional se modificava foram mal percebidos: a queda de Alfredo Stroessner [presidente do Paraguai], a saída dos comunistas do governo húngaro, a volta de sindicato Solidariedade na Polônia, a derrota soviética no Afeganistão, a primeira eleição direta para o Parlamento Europeu e as manifestações de rua na Alemanha Oriental.Martins, no entanto, afirma que os interessados em política externa não continham a surpresa e a satisfação com o fim da separação física das duas Alemanhas. “A sensação popular mais difundida no ambiente brasileiro, em novembro e dezembro de 1989, é de solidariedade e euforia.”A impressão, diz o historiador, era que o fim do muro representava uma espécie de libertação. “Somente aos poucos se foi tomando consciência, entretanto, de que a tarefa para os alemães era difícil, tanto social como financeiramente. A atitude dos brasileiros, porém, permaneceu otimista e confiante.”  O embaixador Marcel Biato servia pelo Itamaraty na Embaixada do Brasil em Berlim (Oriental) e acompanhou os movimentos de 1989 e dos anos posteriores. “Na ocasião, imaginava-se que a unificação monetária ocorreria em 1990 e a econômica em dez a 20 anos. Já a unificação política levaria uma geração”, afirmou Biato, lembrando as entrevistas concedidas pelas autoridades alemãs na época.O clima de expectativa era geral, segundo Biato. “Nos dias que se seguiram à queda do muro, vivia-se a expectativa e a surpresa sobre o que iria ocorrer em vistas das profundas clivagens culturais e contradições econômicas e políticas que dividiam as duas Alemanhas.”A incompatibilidade entre os sistemas capitalista, da Alemanha Ocidental, e socialista, da Oriental, provocou o caos do lado leste. “O que se viu na prática foi o desmonte de quase todas as indústrias, comércio e escritórios do lado Oriental, por sua incapacidade de adaptar-se ao sistema capitalista”. Como quem busca a memória de 20 anos atrás, Biato concluiu: “Era um misto de dificuldades diárias e clima de terra arrasada".