Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A presidente do Instituto Brasileiro de Crisotila (IBC), Marina Júlia de Aquino, reconheceu a existência de uma “guerra de informações” entre quem quer manter o uso do amianto e quem quer proibi-lo.Por telefone, Marina admitiu que ainda não há consenso científico sobre os perigos do amianto, mas destacou que os estudos mais recentes tendem a inocentar a fibra. “Há correntes de cientistas que realizaram estudos em uma determinada situação e têm suas conclusões [e outros que chegam à conclusão diferente]. O interessante é que são os mais antigos os que falam que o amianto faz mal à saúde. As pesquisas mais recentes concluem que, desde que usado de forma responsável, não há como ele fazer mal à saúde. Especialmente do consumidor final.”Marina disse que o amianto não provoca mal à saúde de usuários de telhas ou caixas d´água feitos com a fibra, uma vez que o produto está “amalgamado” (ligado) ao cimento. “Falar da fibra de amianto é uma coisa. Já o produto final, é uma outra coisa. Há apenas 8% de amianto amalgamado ao cimento.”Na semana passada, o IBC encaminhou nota à Agência Brasil afirmando não existir, naliteratura médica mundial, casos de pessoas que tenham desenvolvidoalguma doença associada ao amianto em razão do uso de produtos feitoscom a fibra.A gerente de segurança química do Departamento de Qualidade Ambiental do MMA, Taís Pitta Cota, disse que o risco dos produtos com amianto está ligado ao uso ou degradação do material. O IBC, por sua vez, afirma em nota publicada em seu site que “mesmo que as telhas sejam serradas, quebradas ou trituradas, elas não oferecem nenhum risco à saúde”.A presidente do IBC admitiu ainda que o estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo - citado em nota pelo órgão para sustentar que o uso do produto não oferece qualquer risco de doença - não trata de questões sanitárias. “A conclusão final [do IPT] diz que, ao longo do tempo, submetido a condições diversas, a liberação de fibras é pouca ou nenhuma. Essa é a conclusão do IPT. Se fizemos esta inferência [de que o estudo indica que os produtos não oferecem risco], isso está realmente errado. Sabemos que o IPT não faz estudos ligados à saúde”, afirmou Marina.Marina discordou da recomendação do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) para que as empresas de comunicação deixem de veicular a campanha publicitária em que o IBC defendia o uso do amianto crisotila. Para ela, as propagandas não ferem o regulamento do órgão.“Em nossa propaganda estamos falando apenas sobre os consumidores finais, aquelas pessoas que moram sobre telhas de amianto. Se existisse problemas com o consumidor final, a gente teria uma verdadeira epidemia no Brasil, porque mais de 50% dos telhados brasileiros são cobertos com telhas com amianto, um produto para a população de menor poder aquisitivo”, concluiu.Segundo a auditora-fiscal do Trabalho em São Paulo, Fernanda Giannasi, pesquisas européias demonstram que o registro de consumidores que desenvolveram alguma doença vem crescendo. Fundadora da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina, Fernanda critica o IBC.“Eles estão dizendo qualquer coisa, tentando fazer com que nós tenhamos que comprovar que os doentes estão assim em função da exposição, enquanto eles mesmos não conseguem comprovar a segurança dos produtos que fabricam.”